Curitiba Do total de 1,1 bilhão de católicos no mundo, 600 milhões estão na América Latina. A parcela revela a importância da visita do Papa Bento XVI ao Brasil. No dia 13 de maio, o Papa fará a abertura da 5.ª Conferência do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida, São Paulo. Nela, bispos da região debaterão temas como a globalização, a pobreza, o consumismo e questões sobre família e sociedade. E, com a participação no início do evento, Bento XVI ditará a linha das discussões.
"O Papa sensibilizará os bispos que, por sua vez, sensibilizarão sacerdotes e fiéis", explica dom Pedro Luiz Stringhini, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e membro da secretaria executiva da visita do Papa. "A Igreja tem problemas novos no continente mais católico do mundo e o Papa quer revigorar a evangelização", continua.
Amado ou odiado por ser fiel ao legado da Igreja em assuntos polêmicos, postura herdada de João Paulo II, o teólogo alemão, antes conhecido como Cardeal Ratzinger, é audacioso. Ele está tão interessado em aumentar o contingente de católicos quanto em melhorar a qualidade dos fiéis. E faz isso do seu jeito. Ao mesmo tempo em que não cede a pressões de mudanças à pregação da Igreja em assuntos que considera essenciais não hesita em falar, por exemplo, que considera o divórcio "uma praga social" , tem sido protagonista de atitudes bem diferentes das esperadas quando foi eleito.
Sua primeira encíclica foi uma surpresa: em vez de dar diretrizes sisudas, Bento XVI preferiu falar do amor de Deus pelo homem, o qualificando também como "eros", o mesmo termo usado na psicanálise. No seu último livro, elogia Karl Marx, pai do comunismo, por ter oferecido uma descrição da "alienação do homem" e "uma imagem clara do homem vitimado por bandidos", com a ressalva de que, para ele, a teoria marxista não tenha encontrado a causa do problema "porque raciocinava apenas em âmbito material". Nada mal para um Papa tachado de conservador.
De acordo com Padre Hélcion Ribeiro, professor de teologia da PUCPR e do Sthudium Theológicum, um dos objetivos do Papa consiste em acabar com a ignorância dos católicos sobre a fé. Para o Papa, diz, é preciso entender porque uma regra existe e querê-la com liberdade por se identificar nela um bem. "Muitas vezes o que se vê é um catolicismo muito superficial. Bento XVI quer que o cristão busque o sentido de uma conduta e não a conduta pela conduta", afirma. Um desafio e tanto para um homem de 80 anos.