Há algo de novo emergindo na política ocidental. Manifestações como as passeatas anticorrupção no Brasil e o movimento Ocupe Wall Street, com suas ramificações em vários países, têm motivações diversas, mas um mesmo modus operandis e objetivo. Os protestos são articulados independentemente das organizações políticas tradicionais e pretendem criticar governantes que não atendem aos anseios populares. Nesse sentido, são sintoma de uma crise de representação social. Uma crise que traz consigo riscos e oportunidades.
Na história democrática ocidental, a canalização das demandas sociais ocorria tradicionalmente pelos partidos. Eles representavam basicamente duas identidades políticas definidas pelo trabalho: o assalariado e o patrão. Assim, legendas social-democratas, trabalhistas e socialistas se opunham às siglas liberais e conservadoras.
Num mundo com mobilidade social limitada, a identificação dos cidadãos com sua classe tendia a ser forte. Como consequência, também era mais coesa a relação do eleitor com o partido que o defendia e com seu representante. É possível supor ainda que isso tornava o político mais responsável diante de seus representados.
Na alternância de poder entre as duas correntes políticas, o sistema social-liberal foi um sucesso. Legou um desenvolvimento nunca antes visto. Mas criou uma sociedade complexa, com múltiplas identidades. Hoje um operário pode juntar suas economias e tornar-se empreendedor. Ou então investir a poupança na bolsa e virar sócio de uma grande empresa. Tem-se assim a figura do trabalhador-patrão, uma identidade social que está longe de ser facilmente representada politicamente, como tantas outras dos tempos modernos.
Ao mesmo tempo em que a identidade operário-capitalista perdia força, surgiam outras na esteira da sociedade mais aberta que estava sendo construída. As pessoas passaram a se definir politicamente não apenas pelo papel no mundo do trabalho, mas também pela opção religiosa, pela preferência sexual, pela etnia e pela adesão a causas diversas, como a ambiental.
Novas peças surgiram e embaralharam o jogo político. Os partidos ainda não conseguiram aprender as regras desse intrincado xadrez e estão em crise. Representar a sociedade do século 21 tornou-se um enorme desafio. O risco de que, ao não compreenderem a complexidade contemporânea, os políticos se distanciem ainda mais dos cidadãos, percam legitimidade e ponham a democracia em xeque. Mas há a oportunidade de aprofundar o processo de democratização, por meio da abertura de novos canais de participação e de representação social.
Reforma tributária eleva imposto de profissionais liberais
Sem Rodeios: José Dirceu ganha aval do Supremo Tribunal Federal para salvar governo Lula. Assista
Além do Google, AGU aumenta pressão sobre redes sociais para blindar governo
Quais são as piores rodovias do Brasil que estão concedidas à iniciativa privada
Soraya Thronicke quer regulamentação do cigarro eletrônico; Girão e Malta criticam
Relator defende reforma do Código Civil em temas de família e propriedade
Dia das Mães foi criado em homenagem a mulher que lutou contra a mortalidade infantil; conheça a origem
Rotina de mães que permanecem em casa com seus filhos é igualmente desafiadora