Num mundo perfeito, a ponte do Rio Piedade, na Colônia Itupava – em Rio Branco do Sul – seria uma atração turística. Méritos não lhe faltam. O pontilhão tem linhas tão elegantes que muitos o julgam oriundo da França. Quase – tudo indica que seja uma obra da tecnologia alemã. Sua história não deixa por menos. É ao mesmo tempo uma saga e uma anedota. Conta-se que chegou ali por engano, há inexatos 100 anos. Estaria destinada a Rio Branco, no Acre, mas graças a um desses reveses alfandegários veio parar no Porto de Paranaguá. Ali pode ter se iniciado a comédia de erros que levou a ponte a ser desembarcada na Rio Branco paranaense.
A confusão foi de grande serventia para a região. Durante 90 anos a ponte que pertencia aos acreanos permitiu o trajeto entre Rio Branco e Cerro Azul – municípios divididos pelo Rio Piedade (leia matéria publicada pela Gazeta em 2006). A viagem era um trauma. Cruzar os 80 quilômetros entre Curitiba e aqueles rincões custava quatro horas de barro, poeira e desvio de crateras lunares. Incluiria um percurso de balsa, não fosse aquela maravilha da engenharia europeia. Até que a ponte perdeu a utilidade.
Em meados dos anos 2000, aquele pedaço do Vale da Ribeira ganhou asfalto; e o Rio Piedade, uma passagem de concreto, dando aposentadoria compulsória à veterana “dama de ferro”. Caricatura de si mesma, a Ponte do Piedade hoje leva do nada ao lugar nenhum. Não lhe falta ferrugem e dormentes entregues à sorte. Trajeto, ali, só de galinhas foragidas dos terreiros.
“Meu sonho é vê-la restaurada”, diz Zenaide Cordeiro Machado, 42 anos, moradora da colônia. Ela tem um bar de beira de estrada, cujo propaganda, claro, é uma foto da famosa ponte. Desperta curiosidade. A comerciante não se furta de contar para os fregueses como tudo aconteceu. O povo faz fotos e pergunta qual será o destino de tanto ferro em petição de miséria. Resta o silêncio.