Imagine um juiz de Direito. Sujeito solene, de linguajar refinado, sóbrio no vestir – mesmo quando não está de toga – e com um indefectível ar de concentração de quem tem por ofício distinguir o certo do errado.

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Agora o oposto: uma mulher jovial, simpática, carinhosa, de roupas coloridas, avessa à liturgia da magistratura, que se dispõe a atender a população carente na própria comunidade. E cujo celular toca Poeira, sucesso de Ivete Sangalo.

Assim é a juíza londrinense Joeci Machado Camargo, 50 anos, titular da 4.ª Vara de Família de Curitiba e idealizadora do projeto Justiça no Bairro, que já atendeu mais de 40 mil pessoas carentes desde que começou, em 2003, abrangendo todas as regionais de Curitiba, a região metropolitana e Foz do Iguaçu. Joeci desafiou a burocracia, arregaçou as mangas e provou o inimaginável: que a Justiça – pelo menos na área da família – pode ser democrática, compreensível e (pasmem!) ágil.

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A proeza levou-a a ser uma das três finalistas – entre mais de 200 candidatas – na categoria Políticas Públicas do Prêmio Claudia, homenagem da editora Abril a mulheres de destaque nacional em cinco áreas (Ciências, Cultura, Negócios e Trabalho Social, além de Políticas Públicas). Ela foi a única representante do Paraná na premiação, ocorrida em 18 de novembro, em São Paulo, um reflexo da visibilidade que o programa alcançou.

Esse trabalho – e mais os casamentos coletivos que ela costuma comandar, como o do último dia 26, quando mais de 1.500 casais reuniram-se no Palácio Iguaçu, um recorde mundial – transformou a juíza numa espécie de super-heroína do direito familiar no Paraná. É a ela – ou a algum dos quase 100 voluntários do projeto – que as pessoas mais simples recorrem para resolver pendências de família. E nunca voltam sem resposta.

"Graças ao convênio com a prefeitura, que nos ajuda com a estrutura das Ruas da Cidadania e também com psicólogos e assistentes sociais, com as universidades, que enviam acadêmicos de Direito, e com as promotorias das comunidades, uma vez por semana montamos pólos de conciliação, onde são feitas entre 80 e 90 audiências a cada vez", conta a juíza.

"A maioria dos casos dá conciliação, e tudo se resolve em até 40 dias – tempo para a outra parte receber a intimação. E ninguém paga um centavo. Se esses mesmos processos tramitassem normalmente nas varas de família, levariam de 6 a 8 meses até serem concluídos – e ainda haveria as custas processuais e os honorários. A Justiça gratuita acaba sendo mais rápida que a Justiça comum", observa.