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“A solução em Curitiba é aumentar a cobertura, atender mais passageiros, e melhorar a qualidade do serviço” | Oscar Cidri divulgação
“A solução em Curitiba é aumentar a cobertura, atender mais passageiros, e melhorar a qualidade do serviço”| Foto: Oscar Cidri divulgação

Como resolver o problema de mobilidade em Curitiba? A pergunta, cuja resposta não é nada fácil, foi tema de um workshop realizado pelo Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na semana passada. No evento, autoridades públicas e especialistas discutiram sobre qual seria a melhor opção: ampliar a rede de BRT, criar o metrô ou reduzir o uso de carros.

Na opinião do consultor de planejamento em transporte público, o inglês Luis Wil­­lumsen, no caso curitibano, o ideal seria restringir a utilização de veículos em determinadas áreas e investir pesadamente em um transporte coletivo de qualidade.

Willumsem, que participou do evento em Curitiba, foi professor e pesquisador da Uni­­versidade de Leeds e da Im­­perial College em Londres, ambas na Inglaterra. Atual­­mente, o especialista atua como consultor. Ele trabalhou em projetos de mobilidade e transportes em 30 países, como França, Itália, Espanha e México. Confira trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo:

Como o senhor analisa a situação atual da mobilidade em Curitiba?

Na medida em que a renda das pessoas aumenta, elas querem um sistema de melhor qualidade. E em Curitiba, o BRT (Bus Rapid Transit – sistema que utiliza canaletas exclusivas para os ônibus) não dá mais conta da demanda. Os ônibus estão cheios. E para melhorar a situação, há muitas coisas que podem ser feitas. Investir mais dinheiro no transporte coletivo seria uma solução. Outro exemplo é a integração. Em Curitiba, a integração entre os alimentadores e os articulados é física, mas poderia ser eletrônica, com o uso de cartões magnéticos. Seria mais flexível. As estações tubos, que são originais, são pequenas e não têm ar-condicionado, e isso poderia ser facilmente resolvido. A solução em Curitiba é aumentar a cobertura, atender mais passageiros, e melhorar a qualidade do serviço. Não sei se colocar apenas uma linha de metrô, caríssima, seria uma boa opção para a cidade.

O pedágio urbano pode evitar que o trânsito entre em colapso?

Não gosto de chamar isso de pedágio urbano, e sim de tarifação. Não tenho dúvidas de que esta é a melhor opção para diminuir os engarrafamentos. Mas existem outras medidas que ajudam, como a redução de vagas de estacionamento. E Curitiba parece que está fazendo isso. Mas qualquer restrição deve ser acompanhada de melhorias no transporte público. É mais caro construir ruas para atender os automóveis do que melhorar o transporte coletivo. E construir mais ruas não diminui os engarrafamentos. Mas o ideal é a tarifação, que só virá com um prefeito inteligente e tecnicamente avançado. Hoje a tecnologia para implantar a tarifação é muito barata e não precisa ser feita em uma área grande, mas em alguns pontos.

Como fazer para mudar a cultura do automóvel no Brasil?

A mudança cultural é inevitável. Aconteceu na Europa. Cidades como Paris, Ams­­terdam, não usam mais automóveis, não tem mais espaço e expansão das cidades. Além de ser muito caro, não resolve o problema de trânsito. Curitiba poderia liderar esta mudança cultural, que vai chegar. Nin­­guém, por mais confortável que seja o carro, não quer ficar duas, três horas por dia dentro de um carro. Isso não é qualidade de vida. É um tempo precioso que poderia ser usado com a família. Por maior que seja o tempo para esta mudança de cultura, não tenho dúvidas, ele vai acontecer.

O uso da bicicleta em larga escala pode ser uma solução?

Sim, mas em Curitiba não é tão viável. Você pode usar a bicicleta por 20 minutos, meia-hora, mais tempo que isso não é prático. Em Curitiba chove muito e isso inviabiliza a utilização. A bicicleta seria ideal para alimentar o transporte em ônibus: deveriam existir mais bicicletários nos pontos e terminais. A bicicleta elétrica também é uma opção boa e barata para cá. Mas a solução para o problema da mobilidade é uma união de quatro pontos: melhorar o transporte público, incentivar a utilização dele, favorecer as caminhadas e as bicicletas e colocar restrições aos automóveis.

Na Europa e Estados Unidos, nos países em que você presta consultoria, Curitiba ainda é referência em mobilidade?

Curitiba sempre foi e sempre será referência. Um exemplo disso é o próprio BRT que foi replicado em várias partes do mundo. Demoraram vários anos para que os outros países se dessem conta da criatividade de Curitiba e dos países em de­­sen­­­­volvimento, como o Brasil.

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