Ter acesso aos serviços de um psicólogo particular acabou virando um privilégio para poucos no Brasil. Uma das poucas alternativas é o serviço prestado pelas clínicas dos cursos superiores de Psicologia. Por lei, as faculdades devem ofertar serviços na área ao público externo, gratuitos ou privados.
O atendimento funciona como se fosse em uma clínica qualquer, só que com estudantes do 5.º ano no lugar de profissionais formados. Após uma triagem, os pacientes são divididos conforme a demanda terapêutica.
Os critérios para aceitar pacientes variam. Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), por exemplo, uma equipe de assistentes sociais ajuda a verificar se a pessoa vive em situação de vulnerabilidade social. Já a Universidade Federal do Paraná (UFPR) prioriza pacientes encaminhados dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e de Referência da Assistência Social (Cras).
Quando o serviço não é gratuito, o valor cobrado é simbólico. “A cobrança faz parte do processo terapêutico na psicanálise, por exemplo”, diz a psicóloga Maria Clementina Menghini, responsável técnica pelo Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da UFPR.
O próprio Conselho Regional de Psicologia (CRP) orienta que o atendimento não pode ser gratuito. Pode cobrar só R$ 1, mas é uma forma de valorizar o atendimento, ter o compromisso de não faltar, estar no horário, conforme explica Naim Akel, coordenador do curso de Psicologia da PUCPR.
Na Faculdade Dom Bosco, plantonistas se revezam para atendimentos de emergência. “A proposta é que a pessoa saia daqui melhor do que chegou, mais elucidada, com ferramentas para tomar decisões”, conta a professora Sandra Maria Sales Souza.
Assim como na UFPR, na Dom Bosco a clínica mantém uma parceria com alunos recém-formados. Se não há vagas para o paciente na faculdade, ele é encaminhado a um destes profissionais conveniados, que atendem no próprio consultório e cobram um valor próximo ao praticado pelos estudantes.
Formação
Ao mesmo tempo que prestam um serviço para a comunidade, os serviços-escola funcionam como um estágio profissional para os estudantes do 5º ano e, portanto, já tiveram contato com toda a parte teórica do curso.
“O psicólogo é um profissional da área da saúde indispensável para a sociedade, especialmente para as pessoas menos favorecidas. Não é um profissional só de consultório de madame. E este mergulho [na prática] no último ano é o momento de o aluno perceber isso”, defende o psicólogo Naim Akel, da PUCPR.
O psicólogo em formação aprende também sobre a importância de dar continuidade ao seu trabalho. É o que os motiva a manter o trabalho com o paciente em clínica particular, após o fim da faculdade.
Primeiro contato
É o caso de Claudia Beninca. Seu primeiro contato com a clínica foi no CPA, quando era aluna da UFPR. Em 2008 se formou e foi para o mercado. Hoje, ela é uma das profissionais “conveniadas” com o centro. “[O atendimento na clínica do centro] ajudou bastante a entender que o que eu queria era a psicologia clínica, justamente por sair da teoria e ir para a prática. Eu vi que era realmente aquilo que eu queria”, conta Claudia.