Lançado no dia 17 deste mês, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Mobilidade Grandes Cidades, do governo federal, pode ser a última chance, pelo menos nos próximos quatro anos, para Curitiba conseguir bancar parte dos R$ 2,2 bilhões necessários para a construção do trecho sul do metrô 14,2 quilômetros entre a estação CIC-Sul, perto da Ceasa, e a Rua das Flores, no Centro da cidade. O PAC prevê R$ 18 bilhões em recursos da União (R$ 12 bilhões em financiamentos e R$ 6 bilhões a fundo perdido) para obras de mobilidade urbana.Mesmo com um projeto quase pronto e elogiado pelo próprio governo federal, a capital vai enfrentar outras 23 cidades que buscam uma fatia do recurso. A principal concorrente é Porto Alegre, que também tem um projeto para construção de um metrô.
Se Curitiba perder a oportunidade, ou a concorrência, o futuro do transporte coletivo na cidade passa a ser incerto. No dia do anúncio do PAC, em Brasília, o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Cléver Almeida, disse que a prefeitura dará prioridade ao metrô, mas que apresentará outras três propostas. Essas propostas ainda não foram definidas.
Especialistas dizem que Curitiba não tem um plano B caso não seja contemplada com o metrô. Para Lafaiete Neves, autor do livro Movimento Popular e Transporte Coletivo em Curitiba, se a capital não conseguir atrair os investimentos vai sofrer graves consequências. "Curitiba não inova há décadas. Está atrasada. Uma cidade que não projeta inovação perde em competitividade. Quem vai investir numa cidade com um sistema de transporte que não dá vazão?", questiona.
Segundo André Caon, presidente da Sociedad Peatonal organização não governamental ligada a questões de mobilidade urbana em Curitiba , o metrô é a única solução viável para a cidade. "Há tempos Curitiba parou de investir no transporte coletivo para investir no veículo mono-ocupado. O metrô é uma chance de equilibrar a equação", defende.
Já o engenheiro civil Garrone Reck, ex-diretor de Operações da Urbanização de Curitiba (Urbs) empresa responsável pelo gerenciamento do transporte coletivo da capital , afirma que Curitiba viverá tranquilamente sem o metrô, mas precisará aumentar a qualidade do transporte. "Seria bom, mas se o metrô não vier, não é o fim do mundo. Temos que trabalhar, pesquisar, ouvir o usuário. Aumentar a fluidez, o desempenho do sistema. Curitiba tem que priorizar o transporte coletivo", diz.
Recursos e licença
Avaliado em R$ 2,253 bilhões, o metrô curitibano precisa de recursos federais para sair do papel. De acordo com o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, a expectativa é de que 80% da obra seja bancada pelo governo do estado. O restante ainda está sendo discutido. "Nós temos consciência de que o governo federal não vai financiar a obra inteira", admite.
A prefeitura ainda não tem uma estimativa de quanto vai aplicar na obra, nem da onde virão os recursos. "Ainda estamos estudando, mas será algo em torno de 20%. Também não sabemos se usaremos recursos próprios ou se faremos empréstimos. Não queremos comprometer financeiramente a prefeitura, principalmente os investimentos nas áreas da saúde e da educação, nossas prioridades", afirma Ducci.
De acordo com o Garrone Reck, serão necessários recursos dos governos federal, estadual e municipal para instalação do metrô. "A prefeitura não consegue bancar sozinha. São necessários recursos externos. Sou receoso em relação a isso, principalmente pela concorrência com Porto Alegre. Não adianta o dinheiro vir repartido. Não será bom para nós e nem para Porto Alegre", diz. "E tem que ser a fundo perdido, a prefeitura não tem como assumir dívidas e repassar para a tarifa. O custo da passagem do metrô tem que ser apenas operacional, como em São Paulo, onde o estado construiu."
Outro ponto crucial para a concretização do metrô é a licença ambiental. A licença depende de uma audiência pública marcada para o dia 15 de março e pode facilitar a negociação junto ao governo federal. "Tudo está bem encaminhando. Acredito que não teremos nenhuma dificuldade para obter a licença", aposta Ducci.