| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Quem vê o padre Chan Minh Dinh, 37 anos, sempre com passos calmos e voz serena– típica dos clérigos –, não imagina que para chegar à capital paranaense ele passou por uma aventura digna de roteiro de filme dos irmãos Coen. A longa viagem até aqui se iniciou em 1985, quando Chan tinha 8 anos de idade. Sua mãe perguntou: "Você quer ir embora do Vietnã?". Ao todo, sete dos seus oito irmãos, além de sua mãe, fugiram do país, em percursos diferentes e fantásticos. O dele não seria diferente.

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Na década de 1980, os homens do Vietn㠖 país às voltas com o regime comunista –só tinham uma alternativa: ir para guerra. Mas Chan Minh Dinh não queria lutar pelo regime. E sua mãe não desejava para ele e para os outros filhos o mesmo destino do marido, que morreu ao pisar em uma mina durante os conflitos. À noite, ela deu início ao plano: mandaria o filho em um barco, junto com outros parentes, na direção da Tailândia, país que recebia refugiados vietnamitas.

Fuga

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"Não podíamos sair todos juntos porque os policiais sabiam que muitas pessoas escapavam assim. Fugimos em dois barcos e depois nos encontramos em alto-mar", narra Dinh. Além de despistar a polícia, os refugiados tiveram de escapar dos piratas, pronto para roubá-los e estuprar as mulheres.

Dentro das embarcações havia suprimentos o bastante, como comida, água e die-sel. Seria um plano perfeito, não fosse o surgimento de um outro inimigo: o tempo. A chuva caiu sobre as naus, que não tinham proteção. A água levou o que havia. "Conseguimos salvar apenas um pacote de açúcar", lembra Dinh. Como era uma criança, chorava de fome. Sua irmã, compadecida com a cena, pegou água salgada e misturou com o açúcar. Foi esse "soro" natural que o fez suportar a viagem.

Depois de três dias e três noites, o grupo chegou à Tailândia. Outras 44 pessoas, que vieram em seguida, não tiveram a mesma sorte. "Todos morreram por causa do ataque de piratas. Só uma mulher conseguiu sobreviver. Os bandidos ficaram com dó de matá-la, pois esperava um bebê. Colocaram-na em uma boia, à própria sorte", conta, emocionado. Chan perdeu 15 primos em meio à fuga.

Foi diante da tragédia que fez a pergunta que o levou a decidir ser padre: "Por que Deus deu a vida a mim e não aos outros?"

Acampamento

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Na ocasião, a Tailândia recebia refugiados vietnamitas em quantidade. Mas não havia conforto e paz. Dinh e seus parentes passaram por cinco acampamentos. Recebiam 2,5 litros de água por dia para beber, cozinhar e tomar banho. Tinham de andar cerca de dois quilômetros diariamente para buscá-la.

Da Tailândia, uma associação de ajuda humanitária o levou, junto com a família, para as Filipinas. De lá, o grupo conseguiu asilo em Dodge City, Kansas, nos Estados Unidos. Foi quando sua rota fez a curva.

Vocação

Em Dodge City, Chan Minh Dinh e sua família foram acolhidos por um grupo de freiras. Com a ajuda das religiosas, ele estudou e começou a fazer faculdade de Matemática. Teve até uma namorada. Frequentava a igreja, mas sentia que era preciso fazer mais. Os cálculos e números começavam a ficar para trás. Sentia-se chamado por Deus.

"Recebi vários sinais. Uma vez, por exemplo, resolvi limpar a casa para minha mãe. Sem querer, joguei fora uma latinha com todas as economias dos seus. Ela não colocava nada no banco porque no Vietnã o governo costumava confiscar o dinheiro das famílias. Me senti mal e fui à igreja, onde ouvi a frase: ‘Volta pra casa, vende tudo e me segue". Foi quando Chan vendeu o que tinha e decidiu se tornar sacerdote .

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Numa outra ocasião, encontrou num banco da igreja uma revista e nela o telefone dos Legionários de Cristo, família religiosa da qual faz parte. Ligou seis vezes. Ninguém atendeu. Na sétima, conseguiu contato. Tempos depois, foi aceito na congregação.

Depois de concluir seus estudos no seminário, foi enviado a Curitiba. "Antes de vir para cá, perguntei onde ficavam os macacos?", brinca.

Chan promove ações sociais voltadas aos jovens no bairro Butiatuvinha e atua em uma escola de ensino médio na capital paranaense.

O clube

O padre Chan é um dos organizadores do Clube Farol, associação que promove a formação humana entre os jovens. O religioso atua no bairro Botiatuvinha, em Curitiba. Além de participar de atividades recreativas e de palestras, os adolescentes ajudam famílias necessitadas e têm um projeto chamado "Sonhar Acordado", em que realizam os desejos de crianças em situação de vulnerabilidade social. Qualquer um pode participar do clube, presente em mais de 30 países e com 60 anos de funcionamento. Mais informações: http://www.clubefarol.net/sobre/.

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