Pulso firme no controle dos trens
Ela é a única representante feminina entre pelo menos 20 homens durante o seu turno de trabalho. Das 6 às 14 horas, Samara Gonzaga, 25 anos, representa o sexo feminino onde raramente uma mulher consegue chegar: ela é controladora de trens na América Latina Logística (ALL). E, além do trabalho estressante, pois monitora sozinha cerca de 50 trens em movimento todo dia, ela precisa ser forte emocionalmente para quebrar o paradigma de que naquela seção só homem é capaz de exercer o cargo. "No início foi difícil, conversava pelo rádio com o pessoal que está na locomotiva e eles estranhavam a voz feminina. Fui firme, transmiti que sabia o que estava fazendo", afirma.
Depois de um ano e meio na nova seção de trabalho, ela se sustenta e ainda ajuda a família os pais e dois irmãos. Entrou no curso de Direito e, por enquanto, não pensa em casar ou ter filhos, porque primeiro quer se dedicar à profissão.
Estão nas mãos das mulheres importantes mudanças ocorridas na configuração familiar e social dos brasileiros. Esse empoderamento feminino, resultado principalmente do acesso a melhores empregos e salários, tem modificado a sociedade nas últimas duas décadas: se de um lado caiu o número de residências formadas por casais com filhos de 62,8% (1999) dos lares brasileiros, para 48,3% (2011) , por outro a proporção de casas onde elas moram sozinhas ou são chefes de família e vivem com filhos foi de 17,9% para 24,5% nesse período.
O assunto foi parar, inclusive, em relatórios internacionais. A Organização dos Estados Americanos (OEA) recentemente assinalou como fundamental a participação da mulher no desenvolvimento das nações. Não é por acaso. No Brasil, muitas famílias conseguiram subir de classe social apenas porque elas começaram a contribuir com a renda familiar, em residências onde o sustento vinha apenas do homem. Se em 1992, 39,1% das famílias tinham renda composta também pelo salário delas, o porcentual foi a 66,3% em 2011.
Ainda existem empregos em que a presença feminina é nula. Não há mulheres estivadoras, ou operadoras de locomotivas e são raras as que pilotam aviões cerca de 3% do total no Brasil. No Porto de Paranaguá, há apenas uma mulher que atua como prática (que leva navios até o cais do porto). "Só agora há um movimento para que exista uma cota parlamentar para mulheres. Isso é importante porque ainda há certo machismo nas instituições brasileiras", afirma a advogada Sandra Barwinski, presidente da Comissão da Mulher da OAB-PR.
Nova lei
A Lei 12.705, aprovada em agosto deste ano, é um grande exemplo de que novas mudanças no que diz respeito ao sexo feminino virão por aí. Ela determina que a Academia Militar das Agulhas Negras, que prepara homens para trabalhar no Exército, passe a aceitar também as mulheres. O Exército, aliás, ainda mantêm uma divisão bem evidente: elas só podem trabalhar em cargos administrativos. Agora, poderão ser combatentes.
Sandra aponta ainda outra mudança positiva recente, feita pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), que tem despertado as mulheres para novas funções. "Nos editais de concurso da empresa, havia o cargo de homens eletricistas. Ao alterar para homens e mulheres eletricistas, houve uma mudança no perfil dos profissionais: alterar a linguagem é um fator que ajuda a abrir espaços e diminuir o preconceito", afirma.
Afazeres de casa ainda são serviço das mulheres
Elas ainda não têm salários equiparados aos dos homens, e seguem sobrecarregadas com as tarefas domésticas as mulheres gastam com os afazeres em casa o dobro de horas que os homens. Em uma semana, elas trabalham cerca 22 horas em casa, contra as 10,3 horas deles. "A mulher ampliou sua participação no mercado, mas não delegou a responsabilidade de casa para outros", diz a socióloga Sirlei Márcia de Oliveira, diretora-adjunta da escola Dieese de Ciências do Trabalho, apontando a necessidade de uma mudança cultural. Essa sobrecarga de trabalho faz com que elas procurem empregos que possibilitem uma jornada menor para poder se dedicar à casa. "Há chefes que ainda as veem como as que ficarão menos na empresa para cuidar dos filhos", diz Sirlei.
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