O abismo social que separa os municípios mais ricos dos mais pobres no Paraná já não é tão fundo como há dez anos. A desigualdade entre as cidades do estado caiu 25% ao longo da última década nas áreas de saúde (longevidade), educação e renda. A redução foi revelada no mês passado pelo Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, formatado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados do Censo de 2010.
De acordo com o estudo, a diferença atual entre a cidade com o maior e o menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) no Paraná ficou em 0,277 (o índice vai de zero a um). Em 2000, essa diferença era de 0,373. Esta alteração de 96 pontos se deve à melhoria da situação das cidades que figuravam nas últimas colocações no início da década passada. Localizadas em sua grande maioria nas regiões Centro-Sul e Vale do Ribeira, elas continuam lá atrás no ranking, mas ganharam fôlego e se aproximaram das que estão na dianteira. Goioxim, município de 7,5 mil habitantes no Centro-Sul, registrou a maior evolução do estado entre 2000 e 2010, tendo aumentado o seu IDH-M em 0,195.
Escolaridade
A queda nas disparidades entre os municípios foi puxada, principalmente, pelo desempenho em educação, que mede os índices de escolaridade e frequência escolar. Nesse quesito, a diferença entre o melhor e o pior caiu 128 pontos na década passada uma redução de 24%. Goioxim também obteve o melhor desempenho nessa área alta de 0,322 no IDH-M.
Em 2010, em média 90% das crianças de 5 e 6 anos estavam na escola e 89% dos jovens de 11 a 13 anos frequentavam os anos finais do ensino fundamental em todo o estado. Há dez anos, os porcentuais eram de 65% e 74%, respectivamente.
Os dados referentes à escolaridade da população adulta, porém, ainda são desanimadores. Cidades como Cerro Azul (Vale do Ribeira) e Laranjal (Centro-Sul) têm apenas 17% e 21% dos jovens entre 18 e 20 anos com ensino médio completo, respectivamente em Maringá, esse porcentual é três vezes maior: 64%. Não à toa, a diferença entre o maior e o menor IDH-M em educação no Paraná é de 0,406 a principal desigualdade entre as três áreas que compõem o índice (veja infográfico).
Para o diretor do Centro de Pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Suzuki Júnior, a diminuição da desigualdade entre os municípios passa, preferencialmente, por uma melhoria qualitativa na educação dos paranaenses. "O Paraná tem uma taxa de alfabetização elevada, mas a evasão no ensino médio é significativa e um número pequeno de pessoas tem acesso à universidade. E é aí que residem as grandes possibilidades de melhorias, porque as outras áreas do IDH, como longevidade e renda, devem evoluir pouco nos próximos anos", afirma.
Relação entre estudo e renda interfere no PIB
A desigualdade entre os municípios paranaenses se acentuou a partir da década de 1970, com a crise na cafeicultura. Naquela época surgiu a Cidade Industrial de Curitiba e foi instalada a Refinaria Getúlio Vargas, em Araucária, dando início à concentração de renda na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Logo, a participação de cada região geográfica no PIB estadual sofreu inversão: enquanto a RMC viu sua fatia aumentar 49% entre 1970 e 2010, regiões como o Centro-Sul, Sudeste e Norte Pioneiro diminuíram em 31%, 60% e 59% sua influência, respectivamente, no bolo estadual no mesmo período.
O economista e doutor em Desenvolvimento Regional Jandir Ferreira de Lima, pesquisador da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), lembra que há uma ligação íntima entre os fatores renda e educação e aí reside um dos maiores nós do estado. "O principal estímulo para se investir na própria educação e procurar uma carreira profissional se chama oportunidade. E as melhores oportunidades estão nas cidades com mais habitantes, com mais opções de emprego e renda. Nas cidades do interior, a mudança na escolaridade não impacta na faixa salarial. Ou seja, a pessoa não é estimulada a buscar mais qualificação", afirma.
Do mesmo modo, o aquecimento de mercados sazonais que exigem pouca qualificação, como construção civil, também motiva a evasão escolar. "Às vezes, a melhoria da renda é o que atrapalha a continuidade dos estudos. Muitas pessoas são mais atraídas pelo mercado de trabalho e aí acabam estudando menos do que poderiam ou deveriam", reforça o professor de Desenvolvimento Econômico da UFPR, Huascar Tessali.