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Presidentes petistas

Aborto, armas e ideologia de gênero: decisões contestáveis dos governos de Lula e Dilma

Gleisi Hoffmann e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Durante os governos de Lula (foto) e Dilma Rousseff, ambos petistas, pautas relacionadas à ideologia de gênero avançaram significativamente. (Foto: Lula Marques/Agência PT/Divulgação)

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Contabilizando os dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais o período em que a ex-presidente Dilma Rousseff ficou no poder antes de sofrer o impeachment, o PT esteve à frente do governo federal por quase 14 anos. Nesse período, diversas medidas contestáveis em relação a áreas como posse de armas, aborto e políticas relacionadas à ideologia de gênero foram colocadas em prática pelo Executivo. Boa parte delas em completa consonância com as diretrizes do Partido dos Trabalhadores, tradicional defensor de pautas progressistas.

Em relação ao aborto, por exemplo, a posição do PT é pela descriminalização da prática, chegando até a punir parlamentares que se declararam pró-vida. Ainda assim, apenas em 2007 a posição partidária sobre o aborto foi consolidada durante o congresso nacional do partido, em que os petistas aprovaram a “defesa da autodeterminação das mulheres, da descriminalização do aborto e regulamentação do atendimento a todos os casos no serviço público evitando assim a gravidez não desejada”.

Durante sua permanência no poder, Lula trabalhou alinhado com essa diretriz. Uma das primeiras medida de seu governo diretamente relacionada com a prática do aborto foi uma portaria do Ministério da Saúde promulgada em 2005 regulamentando a justificação e autorização para o aborto em caso de gravidez decorrente de estupro.

Antes da portaria, era exigido que a mulher apresentasse um boletim de ocorrência para poder iniciar o processo no sistema de saúde. Com a portaria, passou a ser solicitado apenas que a mulher fizesse um relato circunstanciado do estupro para poder realizar o aborto em uma unidade hospitalar.

Nesse mesmo ano, outra portaria, desta vez da Secretaria Especial de Política para as Mulheres (SPM), subordinada à presidência da República, instituiu a Comissão Tripartite “para discutir, elaborar e encaminhar proposta de revisão da legislação punitiva que trata da interrupção voluntária da gravidez”.

A Comissão Tripartite finalizou seus trabalhos em 1º de agosto de 2005 e apresentou, em setembro, um anteprojeto de lei que previa a “realização legal do aborto, por decisão das mulheres, em gestações de até 12 semanas, e com até 20 semanas se a gravidez fosse resultante de violência sexual”.

O posicionamento da gestão Lula em relação ao aborto também ficou claro no Segundo Relatório Brasileiro sobre o Tratado de Direitos Civis e Políticos, enviado pelo governo ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), também no ano de 2005. Um dos trechos do documento diz que “o atual governo assumiu o compromisso de rever a legislação repressiva do aborto, para que o princípio da livre escolha no exercício da sexualidade possa ser plenamente respeitado”. Outro trecho diz que no Brasil a punição contra o crime do aborto seria excessiva.

Apoio à descriminalização do aborto

No Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH3), lançado por Lula em 2009, havia expressamente um item prevendo que o governo apoiaria “aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos”.

Na época, havia diversos propostas de lei visando a legalização do aborto no país, vários de autoria de parlamentares petistas, como a do então deputado José Genoino (PT-SP), que previa a descriminalização da prática do aborto para as mulheres com até 12 semanas de gestação e permitia a prática nos casos de má-formação do bebê.

O item do PNDH3 causou muita polêmica, sendo criticado pelos setores pró-vida. O desgaste com a proposta foi tão grande que o próprio governo acabou modificando o texto. Em maio de 2010, o trecho foi alterado para “considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde”.

O governo de Dilma Rousseff também esteve alinhado com a defesa do aborto, mesmo que de forma mais discreta. Em 1º agosto de 2013, Dilma sancionou a Lei 12.845, sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual em todos os hospitais integrantes da rede SUS. Entre os itens da lei, há a previsão de “profilaxia da gravidez”, ou seja, a administração de pílula do dia seguinte em mulheres vítimas de estupro. A lei ainda estabelece a obrigatoriedade de as mulheres serem informadas sobre todos “os diretos legais e serviços sanitários disponíveis”. Isso inclui informações sobre a realização do aborto, que embora seja crime no Brasil, não é penalizado em casos de estupro.

Em complemento a essa lei, em março de 2014, uma portaria do Ministério da Saúde incluiu o procedimento interrupção da gestação/antecipação terapêutica do parto previstas em lei e todos os seus atributos na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses/Próteses e Materiais Especiais do SUS.

A medida estabelecia o pagamento de R$ 443,40 para cada procedimento realizado e foi bastante criticada. Dias depois, Dilma usou as redes sociais para tentar explicar a medida, ressaltando que “o aborto continua ilegal no Brasil. A regulamentação que houve foi para casos já previstos em lei”. As críticas continuaram e a portaria foi revogada em maio do mesmo ano.

Desarmamento em massa

O direito ao porte e posse de armas é outro tema que não teve muito apoio nos governos petistas. Lula foi o responsável por sancionar, em 2003, primeiro ano de seu mandato, a Lei 10.826, ou Estatuto do Desarmamento. A lei restringiu drasticamente a comercialização, posse e porte de armas de fogo e munições no Brasil, estabelecendo regras rígidas para cada caso.

Em 2004, começou uma campanha nacional para o desarmamento, com o recolhimento das armas sem registro que estavam em posse da população. Quem entregasse uma arma espontaneamente poderia receber de R$ 100 a R$ 300. Apenas na primeira fase da campanha, entre março de 2004 e outubro de 2005, 440 mil armas foram recolhidas e destruídas.

Em 2013, Dilma vetou integralmente o Projeto de Lei 87/2011, que garantia o direito a porte de armas de fogo para agentes e guardas prisionais, assim como integrantes de escoltas de presos e guardas portuários, mesmo que não estivessem de serviço.

A justificativa usada pela então presidente foi a de que a medida aumentaria o número de armas em circulação o que iria “na contramão da política nacional de combate à violência e em afronta ao Estatuto do Desarmamento”. Um ano depois, a própria presidência da República apresentou um projeto de lei sobre o mesmo tema, mas sem incluir os guardas portuários. Durante a tramitação, deputados e senadores chegaram a incluir esse item na proposta, mas Dilma mais uma vez usou seu poder de veto.

Ideologia de gênero

Tradicional pauta “progressista”, a ideologia de gênero foi um dos temas que mais avançou durante os governos petistas. Em 2004, o governo Lula lançou o programa “Brasil sem Homofobia”. No documento, o governo definiu identidade sexual como “o sentimento de masculinidade ou feminilidade que acompanha a pessoa ao longo da vida. Nem sempre está de acordo com o sexo biológico ou com a genitália da pessoa”.

Em 2008, o governo realizou a 1ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos LGBT. E nesse mesmo ano, criou o chamado “Processo Transexualizador” no Sistema Único de Saúde (SUS). O processo disponibiliza de forma gratuita terapia medicamentosa hormonal (estrógeno ou testosterona) e também procedimentos cirúrgicos de redesignação sexual.

Lula criou ainda a Coordenação Geral de Promoção dos Direitos de LGBT, vinculado à Secretaria de Direitos Humanos em 2010. No mesmo ano, o Ministério da Fazenda determinou que pares do mesmo sexo pudessem fazer declaração de Imposto de Renda conjunta. No ano seguinte, último do governo de Lula, foi elaborado o 1º Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil e realizada a 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas e Direitos Humanos LGBT.

Durante a gestão de Dilma Rousseff, as pautas relacionadas à ideologia de gênero também avançaram. Em 2013, por exemplo, houve a criação do Sistema Nacional de Promoção de Direitos e Enfrentamento à Violência contra LGBTs, e em 2015 a realização da 1ª Pré-Conferência de Mulheres Trans.

Dilma também determinou, por meio do Decreto 8727/2016, o uso de nome social e o reconhecimento da "identidade de gênero" de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional.

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