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"Fenômeno incipiente e de nicho"

Academia Brasileira de Letras não vê razão para adoção oficial da linguagem neutra

Integrantes do Conselho Nacional de Educação posam para foto com Merval Pereira, presidente da Academia Brasileira de Letras. (Foto: Marlice Pinto)

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Não é o momento de expressões como “todes” entrarem oficialmente na língua portuguesa. Esta é a posição apresentada pelo presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Merval Pereira, em uma reunião pública realizada nesta terça-feira (3) pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para tratar do tema da linguagem neutra.

Merval Pereira esclareceu que a ABL analisa o tema com prudência. Ele disse que a linguagem neutra é um fenômeno ainda incipiente e de nicho, e ressaltou que a mudança seria complexa, já que alteraria a estrutura do português brasileiro. Sobre o uso da linguagem neutra em textos oficiais, deixou claro que, se houver, o texto não estará dentro do padrão da língua culta.

“Os documentos oficiais devem seguir as normas oficiais que estão vigentes. Se o professor quiser falar ‘todes’ na sala de aula, ele estará prejudicando a maioria dos alunos que não sabe o que é isso. Ele também não pode obrigar os alunos a usarem a linguagem neutra, porque não há nada que obrigue a isso”, ressaltou. Pereira disse também que cabe ao Ministério da Educação, não à ABL, tomar uma decisão sobre uma possível adesão oficial da linguagem neutra, mas acredita que não é o momento para isso.

Recentemente, a acadêmica Heloísa Teixeira usou vocabulários neutros em seu discurso de posse na ABL. Sobre o ocorrido, Merval Pereira expôs que a situação causou “um espanto, como se a Academia Brasileira de Letras estivesse adotando a linguagem neutra naquele momento, não é nada disso”. Segundo ele, a nova acadêmica tinha intenção de homenagear o público LGBTQIA+ que estava presente na cerimônia.

O presidente comentou que é preciso tratar o tema com cuidado para que não se cometa um erro nem ao assumi-lo oficialmente, nem ao renegá-lo definitivamente. “A gente tem que ficar atento a continuidade do uso ou não dessa linguagem, ver até que ponto ela pode se ampliar na sociedade, fora do nicho na qual nasceu e que, no momento, só pessoas ligadas a esse nicho usam”, explica Pereira. Ele concluiu dizendo que não é uma reprovação definitiva, visto que o fenômeno é recente e que ainda precisa de tempo para ser avaliado.

“A educação tem outras prioridades”, afirma Niskier 

Arnaldo Niskier que, além de membro da Academia de Letras, já compôs o Conselho Nacional de Educação, também participou da reunião pública. Em sua manifestação, tratou de outros assuntos e dedicou poucos minutos à linguagem neutra. Do pouco que falou sobre o tema, seguiu a linha da importância de tomar cuidado para que não haja nenhum tipo de precipitação.

Niskier comentou que a educação tem outras prioridades, como a discussão sobre o ensino integral e aumento do orçamento público destinado ao setor. “Nós temos que discutir sobre a manutenção e ampliação das verbas para a educação. Não podemos conviver com cortes absurdos que são feitos desde o governo passado e que parece que se tornou mania. A educação precisa sempre de mais e não de menos”, disse.

O professor abordou sobre a urgência de lutar pela qualidade da educação. “Isso depende fundamentalmente nos professores serem mais bem formados e mais bem remunerados também”, reforçou. Niskier também aproveitou o momento para cobrar do CNE a elaboração de uma nova lei de diretrizes básicas para substituir a anterior e a necessidade de se dedicar à qualidade do ensino à distância para torná-lo efetivo.

Evanildo Bechara, gramático e filólogo e também integrante da ABL, estava presente, chegou a ser anunciado durante a reunião, mas não se pronunciou.

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