Quem esteve no olho do furacão da contestação judicial às cotas no vestibular da Universidade Federal do Paraná em 2004 e início de 2005 foi a então procuradora-geral da instituição, Dora Bertúlio. Ela defendeu a UFPR na Justiça e a instituição venceu todos os processos. Ela deixou a procuradoria-geral, mas continua na universidade como procuradora federal. Apóia o Estatuto da Igualdade Racial. "Todo mundo é a favor de ação afirmativa para idoso, deficiente físico, que os pobres e micro-empresários paguem menos imposto ou sejam isentos. Mas quando as ações beneficiam os negros, a história é diferente", observa, ressaltando que, apesar de estar surpresa em ver negros contrários ao Estatuto, vê um lado bom nessa oposição. "Seria racista achar que todos os negros devem pensar de forma igual."

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Para Dora, o argumento de que as cotas aprofundam a desigualdade é um "disparate". "Não tem como a sociedade ser mais dividida do que é hoje. A ação afirmativa une as raças quando dá ao negro a chance de entrar em ambientes onde ele estava praticamente barrado." As ações afirmativas, diz, são o principal meio de reparar as injustiças sofridas pelos negros ao longo da história. "Sou contra a indenização em dinheiro que era prevista no projeto inicial do Estatuto. O dinheiro voa, a nossa dignidade não", define. No entanto, só as cotas não resolvem o problema. "Elas enfrentam uma situação de emergência. É preciso mudar a mentalidade e ensinar as crianças sobre o papel do negro na construção do país", afirma.

A existência de negros bem-sucedidos em várias áreas não serve de argumento para os opositores das cotas, diz Dora. "O racista mostra um negro que conseguiu sucesso e diz ‘quem é competente chega lá sem precisar de ação afirmativa’, e acaba qualificando todos os outros como incapazes", conta. E usa a experiência na defesa das cotas na UFPR como argumento contra quem diz que as cotas desrespeitam o princípio da igualdade. "Todos os juízes acabaram nos dando razão. Igualdade é respeitar os direitos de forma igual e eles viram que os indivíduos não são tratados igualmente, nem pela lei, muito menos pela sociedade."

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