Em Curitiba, protesto começou na Boca Maldita, percorreu a Rua XV e seguiu até o Palácio Iguaçu, na Praça Nossa Senhora de Salette| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Curitiba

Protesto pacífico leva centenas às ruas da capital

Thomas Rieger, especial para a Gazeta do Povo

Munidos de apitos, cartazes, narizes de palhaço e baterias, cerca de 700 manifestantes voltaram a se pronunciar, em Curitiba, contra o aumento no valor das passagens de ônibus e a violência policial em São Paulo e Rio de Janeiro. O protesto, que começou na Boca Maldita, percorreu a Rua XV, a Praça Tiradentes, a Rua Barão do Serro Azul e seguiu, pela Avenida Cândido de Abreu, até o Palácio Iguaçu, na Praça Nossa Senhora de Salette.

Quem via os manifestantes passarem apoiava o movimento, como a aposentada Maria da Silva, de 68 anos. Cantando "Da Copa eu abro mão/ Quero transporte saúde e educação", ela "assinava embaixo" dos protestos. "As pessoas têm que falar para mudar o país", afirmava. Motoristas que estavam presos no trânsito davam buzinadas de apoio. "Quando mais gente melhor", gritava o bioquímico Marcel Carneiro.

O soldado da Polícia Militar (PM) Eduardo Ribeiro dos Santos engrossava a cantoria dos manifestantes. Para ele, as atitudes tomadas pela polícia em São Paulo foram excessivas. "Ao ver as imagens dos protestos, fica a pergunta: quem são os vândalos?", questiona. Uma reunião foi organizada para hoje e um novo protesto, seguindo o mesmo trajeto, foi acertado para segunda-feira.

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Repúdio

O presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Wadih Damous, fez uma manifestação sobre os protestos registrados nesta semana nas capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Damous destacou que os protestos são inerentes à democracia e criticou a forma de reação da polícia, remetendo as práticas adotadas para conter as manifestações "à época do regime autoritário". "Inaceitável é a truculência com que a Polícia agiu, a exemplo de como fazia à época do regime autoritário", criticou.

R$ 4,5 bilhões foi o que paulistanos gastaram com ônibus em 2012. Os dados são da São Paulo Transporte (SPTrans). Para efeito de com­paração, esse valor é maior que o Produto Interno Bruto (PIB) de cidades médias do interior do Estado, como Araçatuba e Marília. O montante diz respeito ao total pago pelos passageiros nas catracas dos coletivos, se­ja com dinheiro vivo ou por meio dos créditos do Bilhete Úni­co. Em 2011, os passageiros de­sem­bolsaram uma quantia um pouco menor, de R$ 4,502 milhões.

Marmita

Para muitos trabalhadores paulistanos, o aumento de 20 centavos no preço do bilhete prejudicará o orçamento. É o caso do limpador de vidros Paulo Aparecido da Silva, de 43 anos. "Trabalho de segunda a sábado, gastando 6,40 reais por dia. É muito dinheiro, que faz falta."

Quem depende do Metrô ou da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos também reclama. "Agora, estou tendo de trazer marmita porque, com o aumento, não tenho dinheiro para almoçar", diz o entregador Deividson Pereira da Silva, de 19 anos.

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"Decidi pela Tropa de Choque depois que a Força Tática não conseguiu conter a fúria daquelas pessoas."

Benedito Meira, comandante-geral da PM de SP.

"Jamais pensei que o PM fosse atirar na minha cara."

Giuliana Vallone, repórter da Folha de S. Paulo atingida pela PM durante o confronto.

"A prefeitura não pode se submeter ao jogo de tudo ou nada. Ou é do jeito que eles querem ou não tem conversa."

Fernando Haddad, prefeito de São Paulo.

A reação violenta da PM contra os protestos pela redução da tarifa do transporte público de São Paulo, na última quinta-feira, gerou diversas reações de autoridades pelo país.

O ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, considerou que houve "excesso" e "abuso" por parte de alguns policiais que entraram em confronto com manifestantes em São Paulo. Centenas de pessoas ficaram feridas, entre elas pelo menos sete jornalistas.

"Tivemos uma situação que, evidentemente, não podemos aceitar. Para mim, do que vi de imagens, do que recebi de informações, houve situações de violência policial que considero inaceitável", disse, em Brasília.

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A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) afirmou que não se deve admitir "em hipótese alguma" violência nem dos manifestantes nem dos policiais. Para Ideli, os motivos que levaram ativistas a organizar atos nas duas metrópoles são legítimos. "O transporte é caro e insuficiente", disse. Um novo protesto, dessa vez pacífico, aconteceu ontem em Niterói, no Rio de Janeiro.

Reunião

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) manteve o duro discurso. Ele classificou as manifestações do Movimento Passe Livre (MPL) de ações "políticas" e de "vandalismo". O prefeito Fernando Haddad (PT) convidou lideranças do grupo para uma reunião no Conselho da Cidade na próxima terça-feira, 11. Um dia antes está marcado outro ato, no Largo da Batata, em Pinheiros, com mais de 100 mil pessoas confirmadas via redes sociais.

"O Movimento Passe Livre" terá espaço para apresentar suas propostas sobre o transporte público", disse Haddad.

O prefeito ressaltou que o convite não significa que o governo tenha a intenção de reduzir a tarifa reajustada recentemente de R$ 3 para R$ 3,20. "O Movimento Passe Livre nos pediu espaço para discutir o tema, estamos abrindo debate", afirmou Haddad.

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Érica de Oliveira, 22 anos, uma dos representantes do movimento, disse que o MPL ainda não recebeu nenhum convite da prefeitura. "Se receber, vamos negociar."

O estudante de História da Universidade de São Paulo (USP) Caio Martins, de 19 anos, representante do movimento, afirmou ser positiva a iniciativa. Ele disse, no entanto, que a presença do grupo na reunião ainda vai ser discutida coletivamente. "Haddad deu várias entrevistas falando que chamou o movimento para conversar, mas é a primeira vez que isso acontece", afirmou Martins.

RepercussãoOs protestos geraram reações no Brasil e no mundo. Algumas delas, bem-humoradas

• Da Turquia: Líderes dos movimentos que se manifestam contra o governo turco, em Istambul, demonstraram ontem solidariedade em relação aos colegas brasileiros que foram às ruas.

• Revolta da Salada: Uma página na Wikipedia foi criada classificando a data de 13 de junho como "Revolta da Salada", em menção ao jornalista que foi preso portando vinagre, que é usado para atenuar os efeitos do gás lacrimogêneo.

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• Marcha do Vinagre: Manifestantes também convocaram pelas redes sociais a Marcha pela Legalização do Vinagre, em alusão à prisão de manifestantes que portavam o produto.

Reprodução/Polícia Pacífica

• Virou piada: A foto de um policial militar usando spray de pimenta contra um cinegrafista virou "meme" – piada que se reproduz com velocidade em montagens na internet. As versões incluem o PM paulista matando insetos, passando desodorante ou ainda pichando um muro.

• Brazil: Dezenas de manifestações estão sendo organizadas em cidades ao redor do mundo em apoio aos protestos realizados no Brasil. Cerca de 30 eventos estão sendo organizados por brasileiros que vivem no exterior e por estrangeiros que ficaram indignados com a ação violenta da polícia.

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• "Vem pra Rua": O refrão "Vem pra rua, que a rua é a maior arquibancada do Brasil", da campanha publicitária de uma montadora de automóveis, virou a trilha sonora de vídeos convocando os manifestantes para o próximo protesto, programado para segunda-feira em diversas cidades do país.