O Paraná é o precursor nacional de uma modalidade que deve acelerar a reforma agrária no Brasil. Por iniciativa da Procuradoria Seccional da Fazenda Nacional em Guarapuava, pela primeira vez o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) recebe uma área para assentamento rural a partir de adjudicação, ato judicial que transfere a propriedade de um imóvel para o credor. Incorporada ao patrimônio da União pela sonegação fiscal dos donos, a fazenda Madeirit foi transferida anteontem ao Incra, após publicação no Diário Oficial da União. Seus 567,9 hectares têm capacidade estimada para abrigar até 35 famílias.

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Autor desse projeto piloto, que servirá de modelo para o país, o procurador-seccional João Luiz de Laia diz haver um grande potencial de obtenção de novas áreas na região de Guarapuava a partir da adjudicação. "Temos 15 grandes devedores, entre pessoas físicas e jurídicas, com áreas penhoradas que, juntas, podem somar cerca de 5 mil alqueires", diz. De acordo com a superintendente do Incra no Paraná, Claudia Sonda, esse montante seria suficiente para assentar perto de mil famílias, conforme a topografia e a qualidade do solo). No estado, 6 mil famílias aguardam acampadas na beira de estrada ou em propriedades invadidas.

Segundo o procurador, apesar das dificuldades encontradas até a conclusão do processo de adjudicação, a previsão é que o repasse de terras por esse meio possa ser até maior que as desapropriações por improdutividade. A arrecadação de áreas por meio de adjudicação é um processo inédito e, no caso do Paraná, foi possível com o trabalho da Procuradoria Seccional da Fazenda Nacional, que desde 2003 vem atuando neste tipo de procedimento. "Fizemos um projeto piloto a partir da determinação do presidente da República para que as terras de devedores da União tivessem uma destinação social", diz o procurador.

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O processo foi acompanhado pela procuradoria em Curitiba e deve servir de modelo a outros estados. Para João Luiz, essa modalidade de aquisição deve avançar a reforma agrária não só no Paraná, mas no país, onde há muitas propriedades penhoradas e abre uma frente para o Incra atender uma demanda que hoje não consegue atender apenas com a compra ou desapropriação de terras. "Sabemos que no Paraná há uma grande dificuldade na obtenção de áreas improdutivas, e com a adjudicação, estamos dando uma destinação para áreas que estavam abandonadas. Assim, conseguimos movimentar a economia da região, com grande vocação agrícola. Há, ainda, boa aceitação da população, já que se tratam de terras de devedores da União", analisa o procurador.

Claudia Sonda explica que a próxima etapa dos trabalhos será analisar e selecionar as famílias de acordo com os critérios de seleção da autarquia federal. "Iniciaremos em breve os estudos técnicos que vão definir a vocação agronômica do novo assentamento, a capacidade de famílias e também a reserva legal e questões ambientais", diz. "A Procuradoria da Fazenda Nacional abriu um potencial imenso de obtenção de terras para fins de reforma agrária. É um processo bastante inteligente e praticamente sem custos para o Incra", conclui a superintendente.

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