O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, falou neste sábado (12) sobre a megaoperação da Polícia Federal, que investiga o envolvimento de policiais com traficantes, milícias e a máfia dos caça-níqueis. Ao todo 37 pessoas, sendo 29 policiais (20 PMs e 9 policiais civis) já foram presas.
Em entrevista ao RJTV, neste sábado (12), Beltrame defendeu as instituições ligadas à Secretaria de Segurança.
"É muito triste ver as forças de segurança pública serem expostas dessa maneira. Mas esse é um caminho sem volta. Nós estamos prontos agora para partir para esse tipo de trabalho (de limpeza da polícia). A sociedade tem que entender que a ação não é contra a instituição, é contra alguns servidores dessas instituições", disse ele.
Ninguém tem carta branca, diz Beltrame
O secretário também falou sobre a manutenção no cargo do Chefe de Polícia Civil, Alan Turnovski, que foi chamado a prestar esclarecimentos na Polícia Federal, na sexta-feira.
"Eu quero deixar muito claro para sociedade que nem nem o doutor Alan nem ninguém que trabalha comigo tem carta branca. O critério é lisura e resultado. Não adianta ter resultado sem lisura e lisura sem ter resultado. O doutor. Alan e todas as pessoas próximas de mim, o critério é esse. A que se entender porque que uma pessoa que foi solicitada a prestar esclarecimentos, eu entendo, até o presente momento, isso pode mudar a qualquer hora de que seria um julgamento precipitado. O que o doutor Alan tem comigo são créditos pelo serviço feito ", explicou Beltrame
Segundo as investigações da Polícia Federal, os suspeitos receberiam propina para passar informações de operações a criminosos e venderiam material apreendido. Entre as apreensões desviadas estaria parte do que foi encontrado no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, em novembro do ano passado.
Beltrame também falou sobre o fato da operação não ter sido coordenada pela corregedoria de polícia. "Nós temos um problema que eu diria no serviço público brasileiro, e em especial, na polícia, que as corregedorias são reativas. Não são investigativas, elas atuam depois do delito acontecido. Elas não têm a capacidade de antecipar. É uma questão estrutural que foi consertada há 15 dias. Agora as corregedorias do Rio podem instaurar inquérito e fazer solciitação de quebra de qualquer sigilo", informou o secretário.
Ele explicou que a operação começou em setembro de 2009 na Secretaria de Segurança, mas que acabou sendo uma operação "a três mãos", com o apoio da Polícia Federal do Ministério Público.
"O que nós temos que ver é que a corregedoria de polícia não tinha o instrumento investigativo e é muito difícil se fazer isso: investigadores investigando e investigados. Então, nós trouxermos parceria para se fazer isso".
Delegado transferido
Um dos alvos na megaoperação da Secretaria Estadual de Segurança Pública e da Polícia Federal, o delegado Carlos Oliveira foi transferido da sede da PF, no Centro do Rio, para o presídio Bangu 8, no complexo penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste, na noite de sexta-feira (11). Os advogados não falaram com a imprensa.
O delegado se entregou à tarde na sede da Polícia Federal, onde prestou depoimento no começo da noite. Oliveira já ocupou o cargo de subchefe operacional da Polícia Civil e, há pouco mais de um mês, havia assumido a subsecretaria de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop).
Em nota oficial, a prefeitura do Rio anunciou, na manhã de sexta-feira, que iria exonerar Carlos Oliveira. "Ele já tinha saído da polícia. A situação dele está posta e está muito ruim. O que mais interessou foi saber quem estava fazendo. Se vendeu um ou 10 fuzis, a gravidade é a mesma", disse nesta manhã o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame.
O chefe de Polícia Civil do Rio, Alan Turnowski, chamou o delegado Carlos Oliveira de "traidor", depois de prestar esclarecimentos sobre as investigações na Polícia Federal nesta manhã. De acordo com a Secretaria, a ação foi comandada pelo órgão e Turnowski pode ajudar nos trabalhos. Em entrevista na sexta-feira (11), Beltrame reiterou a confiança em Alan Turnowski.
Primo de Marcinho VP
Um dos policiais militares presos durante a megaoperação é primo do traficante Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, que é chefe da facção criminosa que teria orquestrado os ataques no Rio em novembro do ano passado e cumpre pena no presídio de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia. Segundo informações da Polícia Federal, o primo de Marcinho VP é terceiro-sargento e estaria cedido à Delegacia de Combate às Drogas (Dcod).
Informantes e escutas
Para chegar aos suspeitos, a polícia contou com a ajuda de informantes, escutas telefônicas, fotografias e filmagens. A ação conta com 580 agentes que visvam cumprir também 48 mandados de busca e apreensão, em bingos, residências e estabelecimentos comerciais. Com lanchas, agentes também fizeram buscas na Baía de Guanabara atrás de corpos de possíveis vítimas de milícias.
"O objetivo primário da operação é alcançar policiais que vazam informações a grupos de criminosos. Em 2009, uma operação tinha objetivo de prender um dos líderes da Rocinha. A operação vazou e o vazamento foi investigado. A partir de uma prisão, a PF conseguiu avançar na investigação o que gerou a Operação Guilhotina", explicou o superintendente da PF, Angelo Fernando Gioia, em entrevista coletiva na sede da PF nesta manhã.
Investigações
Segundo a Secretaria, a ação teve início em 2009, quando agentes tentavam prender o traficante Roupinol, comparsa do traficante Nem, na Rocinha. Na ocasião, policiais do estado do Rio atuaram junto com agentes da Polícia Federal de Macaé, no Norte Fluminense, depois de um vazamento de informações.
Com três testemunhas e um farto material, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, chegou a ir a Brasília pedir à chefia da Polícia Federal que fosse feita uma parceria entre as forças de segurança, já que a PF também havia participado da operação conjunta há quase 2 anos e seguia investigando o grupo.