Determinar os responsáveis por acidentes envolvendo ônibus em Curitiba é um processo lento, isso quando a investigação chega a ser instaurada. Não há dados sobre o número de casos em andamento na capital, mas dois recentes e de alta gravidade revelam que a situação pode ser mais preocupante do que parece.
A recente colisão entre ligeirinhos no cruzamento das ruas Cruz Machado e Dr. Muricy ainda não está sendo apurada porque nenhuma vítima compareceu à Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) para fazer a representação criminal. A vítima tem até seis meses para abrir este procedimento, uma exigência do Código Penal para que o inquérito possa ser instaurado.
Pelo mesmo motivo, a colisão entre o biarticulado Santa Cândida/Capão Raso e o ligeirinho Fazenda Rio Grande, na Travessa da Lapa, no início do ano passado, também ficou sem investigação criminal. Não houve representação de nenhum dos 40 feridos no acidente.
"Sem investigação não se chega a lugar algum e não se coíbe o aumento no número de acidentes", afirma o autor do livro Movimento Popular e Transporte Coletivo em Curitiba, Lafaiete Santos Neves. E o problema cresce: de 2007 a 2011, o número de colisões envolvendo veículos do transporte coletivo dobrou, de 1.553 para 3.012. Somente neste ano, o número de vítimas feridas em acidentes deste tipo chega a 267.
Trâmite lento
Mas a abertura do processo não significa agilidade nas investigações. O acidente do ligeirinho da Tiradentes, que entrou em uma loja, matou duas pessoas e deixou outras 32 feridas em junho de 2010, completou dois anos sem que a investigação fosse concluída, porque falta ouvir algumas testemunhas não residentes em Curitiba. "O inquérito concluiu pela falha humana, provavelmente ocasionada por algo que tenha estressado o motorista. Mas nós não estabelecemos a culpabilidade. Isso quem deve fazer é o Judiciário", explica o delegado-titular da Dedetran, Armando Braga.
É difícil ainda acompanhar em que pé estão as investigações de acidentes de trânsito com ônibus coletivos porque uma resolução da Polícia Civil do Paraná permite que crimes de trânsito com autoria conhecida sejam investigados pelo distrito responsável pelo local onde tenha ocorrido o acidente, ou seja, os casos ficam distribuídos pela cidade e apenas os mais graves, segundo Braga, acabam ficando com a própria Dedetran.