O ritmo de crescimento de veículos do Paraná foi acompanhado, nos últimos dez anos, por um outro dado nada animador: o número de acidentes nas rodovias estaduais e federais. A frota cresceu, de 2001 a 2011, 114% (de 2,5 milhões para 5,4 milhões), mas as condições das rodovias permaneceram praticamente as mesmas, o que contribuiu para elevar também o número de acidentes, no mesmo período, em 99%.
Somados os dados das polícias rodoviárias estadual e federal do Paraná, as estradas tiveram 33,7 mil acidentes no ano passado, contra 16,9 mil em 2001. O número de mortes também aumentou, mas em um ritmo menor, 43%. As estradas mais violentas sob a fiscalização da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) são a PR-407, entrada para as praias de Pontal do Paraná, e a PR-445, entrada para Londrina, que tiveram o maior número de acidentes. A que registrou mais mortes, em 2011, foi a PR-415, em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba.
Apesar do aumento geral na quantidade de acidentes, de 2009 para 2011 as rodovias estaduais tiveram uma queda (de 12.999 para 11.555). A redução, porém, coincide com a data de transferência de 3,5 mil quilômetros de rodovias federais, que estavam sob a responsabilidade da PRE, para a Polícia Rodoviária Federal (PRF), após determinação da Justiça.
Hoje, a PRF é a responsável pela fiscalização de todas as rodovias federais que cortam o Paraná, o equivalente a 4.042 quilômetros. Mesmo assim, para o chefe de operações da PRE, Sheldon Vortolin, a redução de acidentes nas estaduais também se deve a um trabalho feito nos últimos anos, que leva em conta a identificação dos pontos críticos, tipos de acidentes e se a causa está relacionada a um problema de engenharia ou defeito da pista. "Identifica-se o problema. É um tipo de trabalho preventivo que está sendo feito", diz.
Apesar de as rodovias federais apresentarem menor quilometragem no Paraná (4 mil, contra 12 mil de estaduais), são nelas que ocorrem mais acidentes. Foram registradas 22.161 ocorrências em 2011, contra 11.555 nas estaduais. A mais violenta é a BR-376, seguida pela BR-277. Já em número de mortes a BR-277 sai na frente. Ainda: as estradas campeãs em acidentes são aquelas que concentram o maior número de pedágios.
Análise
Embora boa parte das rodovias não tenha a manutenção desejada, aquelas que passaram por melhorias também podem ser uma ameaça aos motoristas. A psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná, lembra que a duplicação de uma via produz no motorista uma falsa sensação de segurança. "A percepção das pessoas quanto ao risco acaba sendo distorcida. Elas acreditam que têm controle da situação", diz.
Diante desta condição, Iara defende o incremento da fiscalização eletrônica, porque há uma tendência de as pessoas abusarem da velocidade quando se sentem seguras. A fiscalização direta dos motoristas também deveria ser mais eficiente, já que hoje a maioria não é parada nas estradas.
Maioria das estradas é de pista simples
O retrato da malha rodoviária paranaense mostra as precárias condições das estradas e o baixo porcentual de pistas duplas. São 15.818 quilômetros de rodovias, dos quais 2.310 não estão pavimentados. Dos 13,5 mil quilômetros pavimentados, há pista simples em12.913 e pista dupla em 972.
Wilson Martines, da Polícia Rodoviária Federal (PRF), lembra que nos últimos dez anos a malha viária não aumentou, apesar da melhoria das condições de algumas pistas, incluindo a BR-116. "Nós tivemos o aumento da frota, mas a malha é a mesma", diz.
Martines afirma que ao gargalo das rodovias paranaenses deve-se somar a circulação de motoristas inexperientes nas estradas. "O incentivo para a compra do carro novo e o crédito fácil levaram pessoas inexperientes a trafegar nas rodovias". Pelas observações dos policiais, hoje é grande o número de motoristas na faixa etária dos 35 anos dirigindo com pouco tempo de habilitação.
O professor Eduardo Ratton, doutor em engenharia e titular do departamento de Transportes da UFPR, diz que inúmeros fatores pesam quando o assunto é o aumento dos acidentes. Os principais são alta velocidade, precariedade na conservação das rodovias e na sinalização. "É fundamental reduzir a velocidade nos trechos críticos, com radares e sinalização", afirma. Quanto à velocidade, o professor enfatiza a necessidade de maior controle pelos órgãos de fiscalização e penalização mais rígida aos motoristas.
Ratton também pontua a necessidade de maior conservação das estradas. "Hoje, exceto a malha pedagiada, a manutenção não é a desejada. Ao mesmo tempo em que houve aumento da frota, muitas rodovias não tiveram a capacidade ampliada com terceira pista e duplicação", explica.
Faltam ainda, segundo Ratton, melhorias na inspeção dos veículos, conscientização dos motoristas, mais estudos sobres os pontos críticos de acidentes e maior envolvimento do governo e setor privado para combater os problemas do trânsito. Os estudos poderiam envolver parcerias com universidades.
Sugestões
O professor propõe mais visibilidade nas campanhas de educação para o trânsito. Para isso é preciso haver envolvimento maior da sociedade e dos setores público e privado, inclusive dos fabricantes e revendedores de veículos. Outra necessidade é de investimento e divulgação de estatísticas, tornando-as mais visíveis à população.