Além de terem matado 29 pessoas e deixado outras 1.798 feridas em Londrina (Norte), de janeiro a agosto deste ano, os acidentes de trânsito representam um alto custo para o sistema de saúde da cidade. Embora não existam dados precisos a este respeito, somente na Santa Casa gasta-se por volta de R$ 670 mil por mês com as vítimas do trânsito. O valor foi calculado pela reportagem a partir de números cedidos pelo hospital que atende mensalmente em média 125 acidentados (ocupantes de veículos) e 8 atropelados.
O cálculo é aproximado e foram considerados casos de média gravidade, sem necessidade de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Mas há pacientes politraumatizados que ficam até dois meses na UTI, isso sem falar nos gastos com reabilitação e afastamento do trabalho", apontou o superintendente da Santa Casa, Fahd Haddad. O repasse do Sistema Único de Saúde (SUS) cobre 40% das despesas geradas pela internação e os 60% restantes são custeados pelo hospital.
Os dados fornecidos pelo Hospital Universitário (HU) não permitiram ao JL estimar os gastos dos acidentes. Mas o hospital informou que o custo diário de um politraumatizado na UTI é de R$ 1.763 o SUS repassa R$ 363,31. Além do dinheiro investido, há um outro problema. "Temos 17 leitos de UTI. Se eu não tenho leito disponível, trava a lista de cirurgias eletivas que precisam de UTI no pós-operatório", diz Francisco Eugênio Alves de Souza, diretor da unidade.
Fora da UTI, o HU possui 300 leitos de internação entre maternidade, pediatria, alas masculina e feminina e infectologia. "Chegamos a ter 40% de todos os leitos ocupados por pacientes de traumatologia, cuja principal causa são os acidentes de trânsito", afirmou Souza. No primeiro semestre deste ano o HU atendeu 363 vítimas do trânsito.
Levantar custos precisos de tratamento de vítimas de acidentes de trânsito na cidade não é tarefa fácil. O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), por exemplo, não discrimina os afastamentos que são provocados por lesões originadas em acidentes de trânsito. A Diretoria de Auditoria, Controle e Avaliação (Daca), da Secretaria Municipal de Saúde, também não tem uma estimativa da despesa gerada ao SUS por esses pacientes.
Prevenção
O diretor da Santa Casa acredita ser possível reduzir os gastos com acidentes de trânsito. "A saúde não tem preço, mas custa dinheiro. Quando a gente vê o final de todo o conjunto de gastos que um paciente do trânsito acarreta, percebe que há um desperdício de recurso que pode ser evitado", avaliou Haddad. O caminho para isso seria legislação mais severa e educação para o trânsito. "A obrigatoriedade do capacete e do cinto de segurança foi incorporada e já diminuiu a gravidade das lesões. É uma questão de educação", confirma Souza.
Motociclistas se acidentem no trabalho
Numa mesma semana de agosto, o entregador Wellington Luiz de Almeida, 23 anos, sofreu dois acidentes. O primeiro foi de carro. Ele estava dirigindo, no bairro Maria Cecília (zona norte) e, ao fazer uma conversão, foi ultrapassado por um carro que o fechou. Ele não se feriu, mas o conserto do carro custou R$ 900. Dias depois, ao fazer entregas de pizza no bairro Farid Libos (zona norte) em uma noite chuvosa, acabou atropelando uma pedestre. "Estava começando a chover e a moça atravessou a rua correndo, em diagonal", disse Almeida. A pedestre esfolou os membros e a motocicleta quase não sofreu avarias, mas Almeida trincou a clavícula. "O Siate foi lá, me levou para a Santa Casa. O médico disse que ia dar 15 dias de atestado, mas preciso das entregas para fazer meu salário", explicou.Três dias depois, ele já estava de volta ao batente.
A clavícula foi também o ponto fraco do auxiliar de produção Davi da Cruz Monteiro, de 29 anos, ferido enquanto ia para o trabalho. Ele caiu de moto na manhã última sexta-feira. "Ainda não sei quanto tempo vou ficar parado, não sei como é o tratamento, mas pelo menos sou registrado. Senão, ficava não mão mesmo", disse.
Siate gasta R$ 272 a cada ocorrência
Cada vez que uma ambulância do Siate liga a sirene e deixa um dos postos do Corpo de Bombeiros, o gasto aproximado é de R$ 272,84. Esse valor, conforme explicou o comandante interino da corporação, major Nilson dos Santos Bezerra, independe da gravidade da ocorrência, e foi calculado com base nas despesas fixas mensais do Siate, que somam R$ 112 mil gasto com pessoal, manutenção e combustível das ambulâncias. São sete ambulâncias básicas e uma de suporte avançado de vida (SAV), que é deslocada em casos graves, quando é necessária a presença de um médico no local da ocorrência. "O nosso gasto só vai diminuir se houver uma redução muito grande de ocorrências", diz o major. A cada 400 carros, um se envolve em acidente
Segundo o superintendente da Santa Casa, Fahd Haddad, numa frota de 400 veículos, um se envolve em acidente de trânsito no Brasil. Na Suécia, esta proporção seria de um para 21 mil veículos. "Há uma distorção que precisa ser corrigida. Estudos informam que 6% das deficiências físicas no Brasil são provocadas por acidentes de trânsito. Isso pode ser evitado", analisou.
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