Rithiane Samara Tavares, 11 anos, ficou um mês sem ir à escola e brincar com as amigas de Panto Branco, cidade no Sudoeste do Paraná, onde mora. A mãe, a gari Silmara Pereira da Silveira, 31 anos, também ficou afastada do trabalho. Ambas ficaram um mês fora de casa, em Curitiba, para o tratamento de Rithiane no Hospital Evangélico.
Dia 7 de fevereiro, a menina queimou as duas pernas 25% do corpo dela sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus quando um primo da mesma idade tentava reacender um braseiro no chão na chácara do avô. "Enquanto meu sogro foi buscar uma serra, o primo dela pegou o álcool e jogou no braseiro. Como ela estava a favor do vento, a explosão foi para o lado dela", explica Silmara.
Mesmo de muito menor gravidade em relação ao acidente de Rithiane, a intoxicação de Alan Scychowski, 3 anos, que há cerca de um mês engoliu sete comprimidos de anticoncepcionais da mãe, preocupou os pais do menino. Ele foi levado imediatamente para o Hospital Pequeno Princípe, onde passou por uma lavagem estomacal. "Como o comprimido é colorido, ele pensou que era doce", afirma o pai, o vigilante Julio Cezar Scychowski. O pai afirma que tanto ele, quanto a mãe sempre tomaram cuidado em não deixar as coisas ao alcance do menino. "Dessa vez ele subiu na cadeira", explica.
Mesmo tendo gravidades diferentes, Rithiane e Alan entraram para a estatística de que 380 crianças são hospitalizadas por dia no país vítimas de acidentes. Pior: os acidentes são a principal causa de mortes entre as crianças, com 16 casos por dia, ultrapassando as doenças.
Os dados são da organização não-governamental (ONG) Criança Segura, baseados em estatísticas do Ministério da Saúde de 2005, quando 5.808 crianças entre 1 e 14 anos morreram e 138.604 foram internadas vítimas de acidentes. Estes acidentes, aponta a coordenadora de projetos da Criança Segura, Ingrid Strammer, poderiam ser evitados em 90% com prevenções simples (ver infográfico).
Para tentar minimizar essa situação, a Criança Segura promove no próximo sábado, 28, um treinamento em Curitiba de prevenção de acidentes com crianças. O treinamento é para profissionais das áreas de saúde, educação e trânsito, e tem o objetivo de formar multiplicadores de medidas de prevenção.
De acordo com Ingrid, muitos pais ainda têm a falsa ideia de que acidentes com crianças são fatalidades. "Como os pais acreditam que em casa a criança está no lugar mais seguro do mundo, muitos as previnem de uma série de coisas no ambiente externo, como violência e assédio sexual, mas não da possibilidade de um acidente no próprio lar", aponta.
A ONG constatou tal relação no estudo Acidentes com Crianças no Brasil e o Comportamento das Mães Percepção x Realidade dos Números, de 2008. Segundo o estudo, de um modo geral, as mães estão mais preocupadas em prestar os primeiros-socorros imediatamente após um acidente do que propriamente preveni-lo.
Segundo Ingrid, os pais devem se apoiar no tripé educação, adaptação e monitoramento. "O ideal é que o imóvel seja adaptado, com instalação de redes nas janelas, por exemplo. Mas o fundamental é que os pais conversem sobre o que pode e o que não pode. E não adianta dizer apenas uma vez porque a criança não assimila. Como ela aprende por repetição, os pais têm que falar todos os dias."
Pediatras
Para ter essas informações do que pode e não pode pôr a criança em risco dentro de casa, a médica Maria Cristina Marcelo Silveira, supervisora do Hospital Pequeno Príncipe, ressalta que o pediatra é a melhor fonte. "Os pais devem sempre levar esses questionamentos ao médico pediatra, que vai orientá-los da melhor forma", enfatiza Maria Cristina. Com essas informações em mãos, a médica também defende que os pais têm que trabalhar as questões todos os dias com as crianças. "Até os 6 anos, a criança é muito curiosa. Mesmo dizendo hoje que algo é perigoso, amanhã ela vai querer fazer".
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Interatividade
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