Ritihiane com a mãe, Silmara, no Hospital Evangélico: queimadura grave nas pernas| Foto: Hedeson Alves/ Gazeta do Povo

Vítimas

Veja alguns casos recentes de crianças que sofreram acidentes.

6 de fevereiro

Um menino de 5 anos morreu afogado em uma piscina em Guaratuba, no litoral do Paraná. As circunstâncias não foram divulgadas.

12 de fevereiro

Uma menina de 10 anos morreu no trecho da BR-476, que dá acesso à Avenida Victor Ferreira do Amaral, no bairro Tarumã, em Curitiba, a poucos metros do colégio onde estudava. Ela estava no banco da frente do carro, sem cinto de segurança. A mãe e a irmã da menina, que estavam de cinto, tiveram apenas ferimentos leves.

25 de fevereiro

Um menino de 4 anos fraturou a perna ao ser arremessado para fora do carro em movimento no bairro Pilarzinho, em Curitiba. Ele não estava usando cinto de segurança quando o pai deu uma freada brusca no veículo, enquanto tinha uma discussão com a ex-esposa.

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Um problema de saúde pública

Para a médica Solange de Souza Ayetta Barretto Cesar, da ala de Pediatria de Queimados do Hospital Evangélico, os acidentes de crianças são um problema de saúde pública que não tem recebido atenção na prevenção por parte do poder público. "As autoridades têm de abrir os olhos para isso, porque as estatísticas estão aí para mostrar que o problema é grave, mas faltam campanhas preventivas que orientem os pais. Ainda mais pelo fato de que medidas muito simples fazem total diferença na prevenção", alerta a médica.

Ela cita o exemplo de crianças queimadas por escaldamento – queimadura com líquidos quentes, principal causa deste tipo de ferimento em crianças de até 4 anos. "Se na hora de dar banho na criança a mãe colocasse primeiro água fria e depois fosse pondo água quente para deixá-la morna, muitos acidentes seriam evitados. Mas a cultura é ao contrário", ilustra a médica.

Se essas informações chegassem aos pais, afirma Solange, haveria também economia nos cofres públicos. Não só pela redução no número de internamentos. "As sequelas sociais de um acidente com criança são enormes. Quando chegar à fase adulta, ela pode ser aposentada por invalidez. Fora os pais, que são obrigados a se afastar do trabalho para acompanhar o tratamento da criança e que geralmente ficam com um sentimento de culpa muito grande", aponta a médica do Evangélico. (MXV)

Serviço

Próximo sábado, a ONG Criança Segura promove o treinamento Cuidados para uma Criança Segura, na Facinter, na Rua do Rosário, 147, no Centro de Curitiba. Mais informações pelo e-mail mariana@criancasegura.org.br, pelo site www.criancasegura.org.br ou pelo telefone (41) 3023-7070.

Rithiane Samara Tavares, 11 anos, ficou um mês sem ir à escola e brincar com as amigas de Panto Branco, cidade no Sudoeste do Paraná, onde mora. A mãe, a gari Silmara Pereira da Silveira, 31 anos, também ficou afastada do trabalho. Ambas ficaram um mês fora de casa, em Curitiba, para o tratamento de Rithiane no Hospital Evangélico.

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Dia 7 de fevereiro, a menina queimou as duas pernas – 25% do corpo dela sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus – quando um primo da mesma idade tentava reacender um braseiro no chão na chácara do avô. "Enquanto meu sogro foi buscar uma serra, o primo dela pegou o álcool e jogou no braseiro. Como ela estava a favor do vento, a explosão foi para o lado dela", explica Silmara.

Mesmo de muito menor gravidade em relação ao acidente de Rithiane, a intoxicação de Alan Scychowski, 3 anos, que há cerca de um mês engoliu sete comprimidos de anticoncepcionais da mãe, preocupou os pais do menino. Ele foi levado imediatamente para o Hospital Pequeno Princípe, onde passou por uma lavagem estomacal. "Como o comprimido é colorido, ele pensou que era doce", afirma o pai, o vigilante Julio Cezar Scychowski. O pai afirma que tanto ele, quanto a mãe sempre tomaram cuidado em não deixar as coisas ao alcance do menino. "Dessa vez ele subiu na cadeira", explica.

Mesmo tendo gravidades diferentes, Rithiane e Alan entraram para a estatística de que 380 crianças são hospitalizadas por dia no país vítimas de acidentes. Pior: os acidentes são a principal causa de mortes entre as crianças, com 16 casos por dia, ultrapassando as doenças.

Os dados são da organização não-governamental (ONG) Criança Segura, baseados em estatísticas do Ministério da Saúde de 2005, quando 5.808 crianças entre 1 e 14 anos morreram e 138.604 foram internadas vítimas de acidentes. Estes acidentes, aponta a coordenadora de projetos da Criança Segura, Ingrid Strammer, poderiam ser evitados em 90% com prevenções simples (ver infográfico).

Para tentar minimizar essa situação, a Criança Segura promove no próximo sábado, 28, um treinamento em Curitiba de prevenção de acidentes com crianças. O treinamento é para profissionais das áreas de saúde, educação e trânsito, e tem o objetivo de formar multiplicadores de medidas de prevenção.

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De acordo com Ingrid, muitos pais ainda têm a falsa ideia de que acidentes com crianças são fatalidades. "Como os pais acreditam que em casa a criança está no lugar mais seguro do mundo, muitos as previnem de uma série de coisas no ambiente externo, como violência e assédio sexual, mas não da possibilidade de um acidente no próprio lar", aponta.

A ONG constatou tal relação no estudo Acidentes com Crianças no Brasil e o Comportamento das Mães – Percepção x Realidade dos Números, de 2008. Segundo o estudo, de um modo geral, as mães estão mais preocupadas em prestar os primeiros-socorros imediatamente após um acidente do que propriamente preveni-lo.

Segundo Ingrid, os pais devem se apoiar no tripé educação, adaptação e monitoramento. "O ideal é que o imóvel seja adaptado, com instalação de redes nas janelas, por exemplo. Mas o fundamental é que os pais conversem sobre o que pode e o que não pode. E não adianta dizer apenas uma vez porque a criança não assimila. Como ela aprende por repetição, os pais têm que falar todos os dias."

Pediatras

Para ter essas informações do que pode e não pode pôr a criança em risco dentro de casa, a médica Maria Cristina Marcelo Silveira, supervisora do Hospital Pequeno Príncipe, ressalta que o pediatra é a melhor fonte. "Os pais devem sempre levar esses questionamentos ao médico pediatra, que vai orientá-los da melhor forma", enfatiza Maria Cristina. Com essas informações em mãos, a médica também defende que os pais têm que trabalhar as questões todos os dias com as crianças. "Até os 6 anos, a criança é muito curiosa. Mesmo dizendo hoje que algo é perigoso, amanhã ela vai querer fazer".

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Interatividade

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