No próximo fim de semana, 1,5 mil jovens universitários de oito países da América Latina se reunirão em São Paulo para construir 105 moradias de emergência destinadas a pessoas pobres da região metropolitana da cidade. A iniciativa da organização não governamental Um Teto para meu País, que não envolve recursos públicos, mostra como o terceiro setor vem tentando ajudar a solucionar o déficit habitacional do Brasil e da América do Sul. Em 14 anos de atuação, já foram construídas 85 mil residências, projeto que envolveu 410 mil voluntários.
Estima-se que hoje um sexto da população mundial viva em habitações inadequadas. No Brasil e na América Latina esse panorama é ampliado em função da desigualdade social e pobreza. A partir desse contexto, o ativista e sacerdote jesuíta Felipe Berríos e universitários chilenos criaram em 1997 a ONG "Um Techo para mi País", que se expandiu e hoje existe em 19 países do continente.
Três etapas
Diretor social da ONG no Brasil, Ricardo Montero explica que eles trabalham em três etapas. Na primeira ocorre a construção de casas de emergência, destinadas a pessoas que vivem em moradias precárias, para evitar tragédias com as chuvas de verão no país. A segunda envolve a criação de fortes alianças comunitárias e planos de capacitação com ações na área de assessoria jurídica, saúde e educação. Por fim, a última etapa visa criar comunidades sustentáveis, um estágio em que os cidadãos não precisem mais do auxílio de terceiros para defender seus direitos.
Outro ponto importante levantado por Montero é o foco da ONG em jovens universitários. "Criamos um diálogo na sociedade. De um lado as famílias mais vulneráveis e do outro jovens com acesso à educação superior. O objetivo é que eles se formem além das bibliotecas e conheçam a realidade social do país."
Clube da Reforma
Em 2007 a organização não governamental Ashoka, presente em 60 países, criou o programa "Moradia para Todos", com o objetivo de implementar ações voltadas a habitação no Brasil, Colômbia, Índia e Egito. No Brasil, o foco da Ashoka é a melhoria habitacional e para isso eles fundaram um grupo chamado Clube da Reforma.
A ideia é unir parceiros do setor privado e social para levar à população de baixa renda serviços adaptados às suas condições financeiras, mas que impactem na qualidade de vida. "Percebemos que não havia produtos e nem financiamentos adaptados para esta população", diz Grasiela Drumond, coordenadora do programa. Segundo ela, 70% das casas do Brasil são construídas passo a passo por meio de autogestão.
O programa conseguiu uma parceria com o Banco do Nordeste, um dos maiores operadores de microcrédito do país, para oferecer empréstimos aos participantes da iniciativa. Os produtores de cimento também entraram no grupo e uma ONG do Ceará se capacitou para oferecer orientação técnica na área de arquitetura e destinação dos recursos. Cerca de 500 famílias já foram beneficiadas.
A Fundação Bento Rubião também participa do Clube da Reforma e já construiu 2 mil unidades habitacionais em parcerias com movimentos de luta pela moradia. A coordenadora do programa "Direito à Habitação", Sandra Kokudai, diz que a ONG é a única no estado do Rio de Janeiro que oferece assessoria e tem atuação prática no setor. "Trabalhamos com produção social de moradia. É uma construção coletiva que envolve as famílias em um processo de autogestão", explica Sandra.
Parceria privada reduz preços e oferece crédito
Em setembro de 2010, dois pesquisadores publicaram um artigo na prestigiada revista Harvard Business Review abordando o programa "Cidadania para Todos", da Ashoka. Uma das vertentes desta iniciativa é o projeto "Moradia para Todos". A união entre empreendedores sociais e o setor privado é apontada pelos pesquisadores como uma alternativa para incluir as 4 bilhões de pessoas do mundo que estão fora da economia formal. Segundo o artigo, nenhum dos dois setores conseguirá encontrar soluções sozinho. O setor privado pode oferecer produção em escala e o social propicia preços menores e fortes laços comunitários. Os pesquisadores citam como exemplo uma produtora de cerâmica da Colômbia que se aliou a organizações não governamentais e, em 2009, conseguiu comercializar US$ 12 milhões, beneficiando 28 mil famílias participantes do programa "Vista sua casa". Na Índia, outra parceria está oferecendo crédito a 2,5 mil famílias para a compra da casa própria.
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Interatividade
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