Quase dois mil anos depois do julgamento de Jesus, os estudiosos do Direito debruçam-se sobre o ocorrido e retiram lições importantes para a Justiça praticada hoje. "A principal delas e, sempre atual, é a de que os poderosos, independentemente da época em que vivem, são capazes de tudo para torcer o juízo a fim de se beneficiar de decisões equivocadas e irresponsáveis", pondera o advogado Rodrigo Freitas Palma.
Além da crítica à influência política sobre a Justiça, o advogado Roberto Victor Pereira Ribeiro extrai outros ensinamentos do julgamento de Cristo. "Esse julgamento trouxe a lição de que devemos ao máximo evitar as polêmicas e os clamores sociais a fim de condenar injustamente qualquer pessoa. Devemos entender e irradiar também a célebre lição de que ninguém deve ser processado sem direito a sua defesa. Infelizmente, Jesus de Nazaré não teve direito à defesa", comenta.
Já o norte-americano Mark Osler, professor de Direito da Universidade Baylor, no Texas, defende o fim da pena de morte com base no estudo do julgamento de Cristo o estado do Texas admite a pena capital. "Eu argumento que nós não devemos infligir ao menor dos homens os mesmos erros de procedimento que foram infligidos a Cristo em seu próprio julgamento", afirma em seu artigo Crucifixion & Execution: the trial of Jesus Christ as a death penalty sentencing process (Crucificação e Execução: o julgamento de Jesus Cristo como um processo de sentenciamento à pena de morte) disponível, em inglês, (clique aqui para ver).
Quem também analisou o julgamento de Cristo sob o prisma do Direito foi o mais famoso jurista brasileiro, Rui Barbosa, em seu artigo O justo e a justiça política, escrito em 1899 disponível no site da Fundação Casa de Rui Barbosa (www.casaruibar bosa.gov.br). "De Anás a Herodes, o julgamento de Cristo é o espelho de todas as deserções da Justiça, corrompida pelas facções, pelos demagogos e pelos governos. A sua fraqueza, a sua inocência, a sua perversão moral crucificaram o Salvador, e continuam a crucificá-lo, ainda hoje, nos impérios e nas repúblicas, de cada vez que um tribunal sofisma, tergiversa, recua, abdica. (...) O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde", escreveu Barbosa.