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Paranapoema – Nove horas de cansativas e tensas negociações entre a Polícia Militar e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) evitaram um conflito armado, ontem, na Fazenda Santa Terezinha, entre Paranapoema e Jardim Olinda (a aproximadamente 130 quilômetros de Maringá), na Região Noroeste. A mobilização dos dois lados indicava um confronto durante a reintegração de posse da área.

Porém, um acordo fechado no final da tarde definiu que os sem-terra devem deixar a propriedade até amanhã. Os agricultores pediram cinco dias de prazo para a desocupação, mas a PM concedeu apenas três dias, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). A polícia patrulha a região para evitar novas invasões. "A ordem é desocupar a propriedade e vamos fazer isto sem violência", informou o major da PM César Vinicius Kogut.

Guerra de informação

Ontem mesmo, algumas famílias começaram a deixar o local e seguiram para o acampamento Mãe de Deus, que fica ao lado da fazenda ocupada pelo MST desde agosto de 2003. O número de famílias no local é incerto. Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ao todo 443 famílias viviam na fazenda. Já o MST afirma que 800 famílias (cerca de 2 mil pessoas) estavam na Santa Terezinha.

O efetivo policial também foi alvo da guerra de informação. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que reuniu 1,5 mil policiais de todo o estado e 132 veículos entre viaturas, ônibus, caminhões e motos na operação. Já o MST afirma que eram pouco mais de 700, enquanto a CPT contabilizou mil PMs. Os sem-terra se mobilizaram contra o despejo desde segunda-feira, quando fecharam uma das duas entradas da propriedade e, durante, toda a madrugada de ontem, ônibus e carros levavam membros do MST da região para reforçar o acampamento.

O comboio policial se reuniu ainda de madrugada, por volta das 5 horas, no Parque de Exposições de Paranavaí, e chegou no local três horas depois, sendo anunciado por rojões pelos acampados que se posicionaram estrategicamente ao redor da fazenda como uma cerca humana. Os sem-terra fizeram muito barulho e fogueiras para intimidar os policiais, que eram observados por binóculos, além de exibirem foices, enxadas, pedaços de pau e até coquetéis molotov.

A negociação começou tranqüila pela manhã e foi ficando tensa com o passar das horas. Uma comissão dos sem-terra, formada pelo padre João Caruana, pelo advogado Humberto Boaventura, pelo deputado estadual Padre Paulo (PT) e dois membros do MST, tentava evitar a retirada dos acampados com contatos telefônicos para bispos, deputados, Incra e membros do governo estadual. Padre Paulo criticou o secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, alegando que ele não atendeu vários telefonemas nos últimos dias e confiava que o Incra pudesse intermediar uma negociação junto à Sesp. O chefe da divisão técnica do Incra, Nilton Bezerra Guedes, chegou a pedir durante reunião ontem à tarde na Sesp, em Curitiba, que a desocupação fosse suspensa, mas não foi atendido.

Conforme o tempo passava, a tropa policial avançava em direção aos sem-terra que também se mostravam inquietos. Os dois grupos chegaram a ficar a aproximadamente 100 metros de distância, com os agricultores gritando palavras de ordem e provocando os policiais, que estavam fortemente armados e só se posicionavam taticamente.

Crianças

No momento mais tenso, os sem-terra colocaram um grupo de crianças na linha de frente. Os menores acenavam contra os policiais e engrossaram os protestos de "queremos terra, não queremos guerra". Mas o acordo firmado no meio da tarde pôs fim, pelo menos por ora, à tensão.

Antes da saída, uma assembléia do MST definiu que apresentará entre hoje e amanhã uma proposta para que a colheita da lavoura plantada pelos sem-terra possa ser feita dentro de um mês ou então que os proprietários da fazenda comprem a plantação e os produtos.

A fazenda foi adquirida pela família em 1969 e tem um total de 470 alqueires, sendo que 420 foram ocupados pelo MST. Havia 1.130 cabeças de gado na época e 250 alqueires preparados para o plantio de soja. Os sem-terra criaram uma lavoura de subsistência, uma horta medicinal e cuidavam de pequenos animais e gado leiteiro. Além disso, fundaram uma escola itinerante que atende a 200 crianças, numa parceria com a Secretaria Estadual de Educação, que construiu quatro salas de aula e havia a previsão da construção de outras três.

"Desde a invasão eu não voltei mais", comenta o proprietário Alexandre Yoshihide Maehara, 32 anos, que acompanhou de longe o trabalho da polícia ontem. "Ainda tenho receio se eles podem voltar." Ele disse que tem interesse em voltar a trabalhar na propriedade e não vendê-la. Ele vai avaliar se há danos e qual pode ser seu prejuízo desde 2003 para decidir se trabalhará com pecuária ou soja.

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