Audiência de conciliação presidida pelo ministro do STF, Gilmar Mendes, nesta quarta-feira (25)| Foto: Antonio Augusto/STF
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Um acordo celebrado durante audiência de conciliação marcada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, nesta quarta-feira (25), prevê o pagamento de mais de R$ 146 milhões a proprietários expulsos da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no Mato Grosso do Sul.

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Participaram da reunião indígenas, produtores rurais do município de Antônio João (MS), representantes do governo do Mato Grosso do Sul e do governo federal, além do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias.

O acerto envolve o pagamento imediato através da União de mais de R$ 27,8 milhões em benfeitorias e mais de R$ 102,1 via precatório.

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Já o governo do Mato Grosso do Sul antecipará à União, via depósito judicial, o valor de R$ 16 milhões “a ser futuramente deduzido de eventual montante negociado, que não inclui as benfeitorias”.

"As partes se comprometem a suspender imediatamente os atos de hostilidade. A Polícia Militar do Estado do Mato Grosso do Sul manterá o policiamento ostensivo apenas na área da Fazenda Barra e na estrada até a Rodovia, utilizando o uso proporcional da força quando estritamente necessário", diz um trecho do acordo.

O acordo ainda precisa ser aprovado pelo plenário do STF.

Conflito

A área alvo da disputa entre produtores rurais e indígenas foi declarada como de posse permanente indígena através de um decreto presidencial em 2005, por Lula. O ato foi questionado pelos agricultores no STF.

A área demarcada fica localizada no município de Antônio João, na fronteira com o Paraguai, e tem 9,3 mil hectares.

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Em resposta à solicitação dos agricultores na época, o então ministro do STF, Nelson Jobim, suspendeu os efeitos do decreto presidencial.

No último dia 18, um indígena guarani kaiowá foi morto a tiros durante uma ação policial para retomada da Fazenda Barra.

Na segunda-feira (23), outro indígena da mesma etnia foi encontrado morto na rodovia MS-384, entre a aldeia Campestre e a zona urbana de Antônio João (MS).

Segundo a policia, a morte teve como causa um acidente de trânsito. Indígenas falam em assassinato

Marco temporal

Os conflitos se intensificaram na região após a derrubada do marco temporal pelo STF, em setembro do ano passado. 

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A tese do marco temporal prevê que a cessão das áreas em favor dos indígenas só valeria para terras que já estivessem habitadas pelas tribos na data da promulgação da Constituição de 1988. 

Após a intromissão do STF no tema, o Congresso Nacional aprovou, em dezembro do ano passado, uma lei que restabeleceu a data de 5 de outubro de 1988 como data-base para as demarcações.

A disputa entre os dois Poderes fez com que o ministro Gilmar Mendes criasse uma câmara de conciliação para resolver o impasse sobre o marco temporal.

Mendes é relator de cinco ações que discutem a constitucionalidade do marco temporal.

Na segunda-feira (23), o STF realizou a quarta audiência de conciliação sobre a Lei do Marco Temporal (Lei 14.701/2023). A sessão ouviu nove especialistas, que discutiram entraves e possíveis propostas de solução para os processos de demarcação e indenização.

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A audiência ocorreu após a saída da Articulação dos Povos Indígenas (Apib), principal entidade que atua na defesa dos indígenas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]