Toda a gritaria de motoristas e cobradores de ônibus de Curitiba e região metropolitana que provocaram um verdadeiro caos na capital com a greve da última terça-feira foi inútil. Ontem, a categoria aceitou os 5% de reajuste que já haviam sido oferecidos pelas empresas antes do movimento grevista. Com o acordo, hoje 100% da frota volta a atender os cerca de 900 mil usuários do sistema de transporte coletivo prejudicados com a paralisação desta semana.
O acordo foi firmado durante uma reunião intermediada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), no final da tarde de ontem, entre os sindicatos patronal e dos empregados. O reajuste será aplicado tanto sobre os salários como sobre os benefícios da categoria, como cesta básica e plano médico.
Negociação falha
A avaliação de todos os envolvidos no impasse é de que o acordo sem avanços para motoristas e cobradores evidencia que houve falha na negociação do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus (Sindimoc) com a classe, durante a assembléia que optou pela greve. "Uma coisa eu aprendi. Muitas vezes, um número não muito grande de pessoas acaba decidindo por uma maioria", afirma o presidente do Sindimoc, Denílson Pires. "Precisamos conversar sempre com um número maior de pessoas para que o anseio da categoria seja atendido", acrescenta.
Em uma nova consulta realizada nas 23 empresas de ônibus, das 23 horas de quarta-feira até 13 horas de ontem, 2,2 mil motoristas e cobradores expressaram suas opiniões. Em urnas do Sindimoc, as cédulas de votação permitiam que eles escolhessem entre o reajuste de 5% já aceito pelos patrões ou dar continuidade à busca dos 11%, correndo o risco do dissídio. O resultado da apuração foi significativo: 83,18% (1.830 votos) a favor do acordo de 5%, 314 contra, 27 votos nulos e 29 brancos. "Essa consulta foi uma experiência nova que será utilizada com mais freqüência", conta Pires.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Rodrigo Hoelzl, não se pode tirar pontos favoráveis da greve. "Um balanço totalmente negativo. A greve só trouxe prejuízos para todos. Além dos mais de 200 carros avariados, foi um dia parado", afirma Hoelzl. "Eles valorizaram o movimento ao extremo de paralisar uma cidade toda, de forma danosa, para se chegar a uma mesma proposta. Demos uma grande volta para se chegar no mesmo lugar, no ponto de partida", avalia o diretor-presidente da Urbs (empresa que controla o transporte coletivo de Curitiba), Paulo Schmidt. Os atos de vandalismo causados por manifestantes deixaram prejuízo estimado em pelo menos R$ 100 mil para as empresas de ônibus, além de perdas não estimadas para o comércio e prestadores de serviços da capital.
Segundo a Setransp, o valor do reajuste salarial da categoria sairá do Fundo de Urbanização da Prefeitura de Curitiba. A receita do Fundo vem de arrecadações com tarifas de ônibus e multas aplicadas a infratores de trânsito. De acordo com a diretoria da Urbs, a curto prazo não há problemas para efetuar o pagamento do reajuste. Também não existiriam estudos para o aumento da passagem de ônibus. "Estamos sempre em busca da redução da tarifa e do aumento do número de passageiros", afirma Schmidt.