7 mil árvores invasoras estão espalhadas por 18 parques e bosques de Curitiba. A prefeitura não tem um estudo de proporção para saber quanto as "forasteiras" representam no total das árvores nas unidades de conservação da capital.
Problema?
Que males uma árvore pode causar? Muitos, quando ela modifica radicalmente a estrutura de vida em um lugar. A questão é que a ecologia é uma composição frágil, em que uma espécie está interligada a outra. Elas convivem há muito tempo juntas até que se estabelece uma cadeia de dependência. Quando uma espécie que não é própria da região é inserida em um ambiente ela pode por falta de predadores naturais, por exemplo se alastrar. Em resumo, as invasoras tomam espaço e nutrientes das nativas, que não conseguem competir. Algumas "forasteiras" são tóxicas para animais e tiram o lugar de outras que poderiam servir de alimento para a fauna.
Nativa é uma espécie típica da região, que se desenvolveu adaptada às condições características do lugar.
Exótica é uma espécie "importada" e não necessariamente um problema porque precisa de cuidados para se desenvolver.
Invasora é uma espécie exótica, que, por não fazer parte cadeia local, se desenvolve sem nenhum controle ecológico, tomando o espaço de outras mais frágeis.
Elas são verdes, dão sombra e algumas até produzem frutinhas saborosas. Por tudo isso é difícil acreditar que árvores podem ser fontes de problemas nos parques de Curitiba. Mas milhares delas são pragas, que prejudicam a natureza local. São as chamadas espécies invasoras, como pinus, alfeneiro e uva-do-japão.
Um estudo realizado em Curitiba conseguiu mostrar o quanto as invasoras estão avançando sobre o espaço das nativas. Em 2007, quando o primeiro levantamento foi feito, eram 5 mil árvores "maléficas" em 18 parques e bosques visitados. Agora são 7 mil aumento de 40% em sete anos. Não houve plantio. Elas se espalharam naturalmente.
Em média, havia 283 indivíduos invasores por parque em 2007. O número médio passou para 393 no mais recente levantamento. Um exemplo vem do Parque Tingui, que tinha 736 invasoras há sete anos e subiu para 1.824. O número de alfeneiros (arbusto da região de Alfenas, em Portugal) passou de 27 para 841, provando como a espécie se dissemina rapidamente.
O censo das árvores invasoras consome dois anos de trabalho com equipes da prefeitura e da Universidade Federal do Paraná, apoiadas pela Fundação Grupo Boticário. A pesquisa de campo, com oito pessoas, dura um ano e vai mais igual período para analisar e fazer o relatório do que foi encontrado. Somente as árvores adultas são contadas, mas a equipe de pesquisadores comenta que tem encontrado regeneração, com muitos exemplares jovens.
Uma das coordenadoras do censo, a bióloga Raquel Negrelle defende a remoção das invasoras. "Mas não dá para tirar tudo de uma vez", comenta. A retirada brusca causa impacto negativo na paisagem, além de sensibilizar as pessoas. O processo deve ser gradual, diz ela, tirando os exemplares adultos e controlando os jovens. Raquel conta que em praticamente todos os parques aconteceram ações de remoções e que os locais mais significativos foram o Bosque Alemão e o Jardim Botânico. Por causa desse processo, o pinus teve redução de 50%. Já o cinamomo foi a que mais cresceu, com 350% de aumento.
A bióloga ressalta que, muitas vezes, as pessoas não entendem o motivo da retirada de uma planta saudável. "Difícil dizer para a população que aquela árvore cheia de frutinhas, como a amora preta e a nêspera, deve ser cortada", comenta. Ela destaca que ações de educação ambiental podem esclarecer a importância de preservar o ambiente para as espécies nativas, explicando os danos causados pelas invasoras. Em alguns parques de Curitiba, os visitantes recebem orientações.
Prefeitura corta mais de mil invasoras ao ano
Apesar de parte da população torcer o nariz, a prefeitura de Curitiba mantém há muitos anos uma política de corte de árvores invasoras. Segundo o superintendente de Obras e Serviços Públicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Alfredo Trindade, o programa conta com uma equipe própria, responsável também por corte de árvores doentes e podas, e, por isso, não é possível precisar quanto é gasto por ano. De 1,5 mil a 2 mil são cortadas anualmente.
Ele comenta que uma lei aprovada no ano passado tornou mais clara a política de corte de invasoras, principalmente para incentivar a população a substituir por espécies nativas. Antes da nova legislação, o corte de uma "forasteira" obrigava o plantio de cinco nativas de 1,8 metro. Agora são duas de 1,5 metro. Trindade reforça que é difícil, depois de tentar convencer a cuidar das árvores, explicar para a população que o corte é necessário para preservar a natureza.
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