Psiquiatria
Doença foi reconhecida em 2013 como uma manifestação de TOC
O presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria, André Rotta Burkiewicz, explica que a acumulação é classificada como um tipo de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) no novo Manual de Diagnóstico e Estatística de Desordens Mentais (DSM-5), publicado em maio deste ano. "A doença se caracteriza pela necessidade compulsiva de acumular não só animais, como objetos, sucata. O acumulador tem uma autocrítica muito alterada, não tem noção que pode ocasionar problemas à própria saúde e à do animal."
Segundo Burkiewicz, além de fatores genéticos, o TOC pode ser desencadeado pelo ambiente e por uma criação familiar rígida. Cerca de 2% da população mundial sofre de algum transtorno obsessivo compulsivo, que tem incidência igual sobre homens e mulheres. "Os prejuízos são muito grandes. A pessoa deixa de trabalhar, de ganhar dinheiro para cuidar dos bichos. Sem contar o prejuízo social. Os familiares não conseguem morar junto, o cheiro dos animais fica insuportável." Pacientes com transtorno de acumulação podem precisar de psicoterapia ou de medicação.
Opinião
Acumulador precisa de ajuda tanto quanto bichos
Anna Simas, repórter do Gaz + e do Blog Animal
Acumuladores não são protetores. Não se pode confundir. A proteção animal é organizada: castra, vacina e coloca em hotéis próprios para bichos até que eles sejam adotados. Os grupos de protetoras independentes que existem na cidade não funcionam como abrigos. Dificilmente uma protetora terá em sua casa muitos animais. Se tiver, será temporariamente. Muito diferente do que acontece com um acumulador, que, por sofrer de distúrbio psicológico, não consegue se separar dos cães ou gatos.
É importante ter cuidado para não generalizar. O acumulador precisa de ajuda, de tratamento, e os animais que estão com ele também. Ele abriga dezenas deles por problemas pessoais, não porque está preocupado em resolver a questão do abandono e dos maus-tratos, que é o que faz um protetor de verdade. Esse sim coloca o bem-estar do bicho em primeiro lugar.
Serviço
Doações
Os telefones dela para doação de ração, produtos de limpeza e remédios para vermes são (41) 3364-3572 e 9176-8651.
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O acúmulo de animais em casa, mais que um gesto de compaixão com cães e gatos abandonados, é um transtorno mental que desafia as autoridades públicas. A maior parte das pessoas que sofre desse mal é invisível aos olhos das políticas de saúde dos municípios. O problema afeta inclusive os animais, que acabam vivendo em espaços pequenos, com água e comida escassas.
Em Curitiba, uma iniciativa da prefeitura planeja mudar esse panorama de abandono. A Rede de Proteção Animal deu início a um levantamento inédito que pretende localizar e traçar o perfil dos acumuladores na capital. A partir dos resultados do estudo, o município quer desenvolver um plano de ação que garanta o bem-estar do acumulador e dos animais. Com financiamento da Fundação Araucária, a pesquisa é a primeira do tipo no país. Os dados serão levantados a partir de denúncias feitas ao telefone 156 e à Rede de Proteção Animal. Até agora, cerca de 130 casos foram catalogados pelo grupo.
Coordenador do levantamento, Alexander Biondo estima que existam pelo menos 150 acumuladores em Curitiba. Para ser diagnosticado com transtorno, não basta ter uma quantidade determinada de animais em casa. A definição do problema não depende do números de bichos, mas de um padrão de comportamento. "É um transtorno compulsivo que entrou neste ano para a lista de doenças mentais. É uma doença que se caracteriza pela perda, em que a pessoa se marginaliza e até projeta a personalidade nos animais", diz Biondo, que é diretor do Departamento de Pesquisa e Conservação da Fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
De acordo com ele, muitas vezes o acumulador não tem condições de tratar os animais adequadamente, mas também não percebe o mal que causa. Outra característica que o diferencia dos protetores de animais, por exemplo, é o apego excessivo, que impede as doações. "O acumulador não põe para adoção, ele põe empecilhos. A pessoa pode ter um animal e ser acumuladora, mas o perfil que imaginamos encontrar nesse estudo é de pessoas com cinco a dez cães para cima."
Depois de identificadas, elas serão visitadas por um grupo de biólogos, veterinários e psicólogos da Secretaria Municipal de Saúde, Universidade Federal do Paraná e Faculdade Dom Bosco para entender melhor cada um dos casos. A previsão é concluir o mapeamento em dois anos.
Moradora do Uberaba tem 110 cachorros
Quando perdeu o filho, há 10 anos, a dona de casa Maria Cristina Gomes, 52 anos, começou a acolher cachorros da rua. A primeira foi "Neguinha", já adulta. Depois, veio Sansão, um filhotinho. Logo, a pequena casa no bairro Uberaba se tornou referência para pessoas que desejam adotar ou dar um lar a cães doentes ou abandonados. "Quem tem cachorro doente vem se consultar aqui. Nem vai mais no veterinário", diz.
Ela conta que já acolheu e recuperou incontáveis caninos. "Calculo que hoje tenho uns 110", afirma. Alguns chegam à casa dela quase sem vida, maltratados, com sarna ou pulgas. "Não tenho medo, pego sarna deles. Hoje mesmo chegaram três, um cheio de sarna. Ontem doei um pequeno e hoje um pitbull, mas é difícil adoção. Mais entra do que sai."
Para dar conta de alimentar os mais de 100 "filhos" que comem 30 quilos de ração por dia , ela pede a ajuda de vizinhos, amantes de bichos e até da panificadora próxima, que doa sacos de pães. "Tem dia que não ganho nada, então, acabo gastando uns R$ 180 por mês", calcula ela, que é pensionista da Paraná Previdência.
Os animais, garante Maria Cristina, estão melhor ali do que abandonados na rua. Mesmo assim, reclama que a prefeitura já foi até a casa dela com a Guarda Municipal por causa do mau cheiro. "Até concordo com os vizinhos. Limpo toda hora, mas não tem jeito."
Ajuda
Nos próximos meses, Maria Cristina teme ficar sem lugar para morar com os cachorros. "A proprietária quer a casa e eu preciso de um lugar pra morar. Não quero de graça, pago o aluguel, mas precisa ser aqui perto, porque cuido da minha mãe doente."
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