Depois de quase um mês presa, a ex-chefe do escritório do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em Ponta Grossa, Elma Romanó, ganhou o direito de aguardar em liberdade a conclusão das investigações que a acusam de corrupção. O desembargador Lídio José Rotoli de Macedo, do Tribunal de Justiça, concedeu habeas-corpus com base na alegação da defesa de que ela tem residência fixa, não tem antecedentes criminais e não está atrapalhando as investigações, que apontam autorizações para o corte ilegal de 36 mil araucárias nos Campos Gerais. Visivelmente abatida, Elma deixou o Centro de Triagem (CT) na tarde de ontem e preferiu não falar com a imprensa.
Também conseguiram habeas-corpus os outros três acusados presos: o engenheiro Luiz César Santos, o técnico ambiental Samuel de Moura e o madeireiro Wilde Wanderlei Gomes do Valle. Emerson Woiciechowski, advogado de Moura, reforça que o seu cliente inclusive colaborou com as investigações e não havia motivo para prisão preventiva.
Nesta semana, o Ministério Público denunciou 18 pessoas acusadas de envolvimento na venda de autorização de corte de pinheiros. A juíza Vânia Kramer, da 2.ª Vara Criminal de Ponta Grossa, determinou que os acusados se defendam, no prazo de 15 dias. Só depois disso ela irá decidir se aceita a ação proposta.
O pai de Elma, o militar reformado Joaquim de Adão Lima, foi buscá-la no CT e disse que tem orgulho da filha pelo passado de defesa ao meio ambiente. Para Lima, as manifestações de solidariedade de ambientalistas demonstram a seriedade dela. "O trabalho e o passado dela denotam tudo que ela é", disse. Elma irá dar sua versão sobre as irregularidades detectadas na Operação Floresta Negra na segunda-feira. "Ela está muito emocionada e precisa descansar", justificou o pai. O advogado Dálio Zippin Filho não descarta a possibilidade de ela voltar para o hospital de onde foi tirada no dia 26 de outubro, quando estava internada para tratamento de crise nervosa.
Elma foi designada para assumir a chefia regional do IAP em Ponta Grossa em 2004 para apurar denúncias de corrupção. As investigações coordenadas por ela resultaram em uma exoneração e outras punições a servidores. Em maio, na mesma época em que pediu afastamento do IAP, Elma entregou à Promotoria de Proteção ao Patrimônio Público uma denúncia alegando que funcionários do Instituto falsificaram informações de processos internos e até sua assinatura. Em carta enviada pela ex-chefe ao IAP, em junho, ela pede exoneração do cargo, relatando que fez denúncias que não avançaram e que a falta de pessoal, reclamada diversas vezes, comprometia seu trabalho. Recebia diversas ameaças e tinha de trabalhar com colete à prova de balas. O desmate irregular seria equivalente a 1,5 mil campos de futebol. Entre os envolvidos estão funcionários do IAP, madeireiros e proprietários rurais. O corte de araucária, árvore-símbolo do Paraná e que está ameaçada de extinção, é permitido somente se for em área de reflorestamento. A investigação começou há oito meses e apurou que autorizações irregulares foram concedidas nos últimos três anos. Foram negociadas pelo menos 25 licenças irregulares, com preços entre R$ 10 mil e R$ 30 mil. Outras 125 autorizações estão sendo investigadas.