O julgamento de Daniel Luís Santiago Cortes, acusado de participação no esquema que ocultou provas no caso da morte do estudante Rafael Rodrigo Zanella, em maio de 1997, deve se estender até a madrugada desta quarta-feira (9). Cortes é julgado desde as 11 horas na 1.ª Vara do Tribunal do Júri, no Centro Cívico, em Curitiba.
Ele era o superintendente do 12.º Distrito Policial, em Santa Felicidade, responsável pela região onde ocorreu o crime. Cortes é acusado de atirar contra a viatura dos policiais que abordaram Zanella para que se criasse uma situação de troca de tiros entre o rapaz e os policiais. Ele também é acusado de tortura contra os três rapazes que estavam com o estudante Zanella. "Espero que ele seja responsabilizado pelos seus atos", afirmou Tiago Zanella, irmão do estudante morto em 1997.
Até as 19h, quatro testemunhas de defesa e o réu haviam sido ouvidos. As testemunhas de acusação já prestaram depoimento na fase de instrução do processo. A promotoria e o advogado de defesa também devem se pronunciar. Depois disso, os sete jurados do júri popular vão decidir qual a sentença de Cortes.
No julgamento, o réu alegou que, quando chegou ao local do crime, já havia uma multidão na rua. Ele diz que ficou pouco tempo no lugar e não ficou sabendo de nenhuma farsa. O advogado de Cortes, Osman Santa Cruz Arruda, tem os mesmos argumentos. "Ele chegou bem depois do homicídio e a permanência dele no local foi muito rápida. Já tinha muita gente no local e não havia como ele ter participado de qualquer esquema", afirma.
Outros acusados
O julgamento do crime continuará na quinta-feira (11), quando Carlos Henrique Dias será julgado. Ele era um dos escrivães do distrito policial. Segundo a acusação, Dias teria registrado os fatos de forma distorcida na noite do assassinato. O advogado dele, Antônio Rabello de Mello, diz que não havia como ele saber que tudo se tratava de uma farsa. "Dias não participou da manipulação do local. Era escrivão e chegou na delegacia quatro horas depois da ocorrência. Ele acreditou nos policiais e registrou o que eles contaram", defende.
Na segunda-feira (15) será julgado Maurício Bittencourt Fowler, na época um dos delegados do 12.º DP. Ele teria sido o mentor da farsa e é acusado de tentar convencer os rapazes que estavam com Zanella a confirmar que o jovem era um traficante. Esta versão não corresponde à realidade, segundo o advogado Arnaldo Busato Filho. "Ele estava em uma partida de futebol quando foi chamado até a delegacia para atender uma situação de emergência. Quando chegou lá, já se deparou com o quadro pronto. Ele foi induzido a acreditar no que a equipe policial relatou que era verdade", afirma.
O crime
Na noite de 28 de maio de 1997, o estudante universitário Rafael Rodrigo Zanella foi abordado por três policiais civis - Aírton Adonski, Reinaldo Siduovski e Jorge Élcio Bressan e também pelo estudante de Direito, Guilherme Vieira Doni, e por um informante da polícia, Almiro Deni Schmidt. Estes dois últimos prestavam serviços de forma irregular no 12º Distrito Policial (DP). Quando parou o carro que dirigia, o universitário levou um tiro na cabeça, efetuado pelo informante. Ele foi confundido com um traficante.
Logo depois do assassinato, os homens envolvidos no crime tentaram mudar a cena do crime. Eles colocaram um revólver na mão de Zanella e implantaram maconha na roupa dele. O objetivo era alegar que o rapaz era um traficante que reagiu à abordagem policial. Outros três rapazes que estavam com o estudante no automóvel foram presos, agredidos e ameaçados. Cerca de uma semana depois do fato, uma perícia policial revelou toda a armação realizada.
Em 1998, Adonski e Siduovski foram condenados por fraude processual, denunciação caluniosa e tortura. Eles ficaram presos até 2005 e depois foram soltos pela Justiça. No ano 2000, o informante Schmidt foi condenado a 21 anos de prisão por homicídio. Desde março de 2008, ele responde pelo crime em liberdade. Bressan recorreu à pronúncia do juiz em 1.º grau e o Tribunal de Justiça decidiu não mandá-lo a julgamento. Doni não foi acusado pelo homicídio e teve o processo dele suspenso.
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