A chacina de Unaí, episódio em que quatro funcionários do Ministério do Trabalho foram mortos na cidade do noroeste mineiro, em 2004, terá o segundo julgamento a partir de amanhã, em Belo Horizonte.
Quem se sentará agora no banco dos réus é o fazendeiro Norberto Mânica, acusado de ser o mandante dos crimes, ao lado do irmão, Antério Mânica, cujo julgamento ainda não foi marcado. Três pessoas acusadas de terem intermediado a contratação de pistoleiros também irão à júri juntamente com Norberto.
No último dia 31, no primeiro julgamento do caso, três homens acusados de serem os executores dos crimes foram condenados a penas de até 94 anos de prisão.
Um dos acusados que serão julgados nesta semana é Hugo Pimenta, réu confesso que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal para ter a pena reduzida. Pimenta apontou Norberto como mandante, o que ele nega.
Segundo a acusação, os irmãos Mânica andavam insatisfeitos com a fiscalização do Ministério do Trabalho nas lavouras de feijão deles e por isso mandaram matar os três fiscais e o motorista do governo em uma emboscada, em janeiro de 2004.
Além de Pimenta, o atirador Erinaldo Silva também apontou Norberto como sendo o mandante. Erinaldo, que também recorreu à delação premiada, recebeu pena de 76 anos de reclusão -Rogério Alan Rocha Rios foi condenado a 94 anos e William Gomes de Miranda, 56 anos.
Erinaldo disse ter recebido entre R$ 40 mil e R$ 50 mil para matar um dos fiscais. Depois, disse ter ouvido diretamente de Norberto a proposta de receber R$ 100 mil para assumir o crime, oferta que subiu depois para R$ 300 mil.
O intermediário Hugo Pimenta disse ter presenciado ligação de Norberto para um dos executores e que "soube" que o fazendeiro prometera R$ 300 mil para Erinaldo e R$ 200 mil para Rogério."Conjunto de mentiras"
O advogado de Norberto Mânica, Alôr Castro, disse que irá tentar provar a inocência do seu cliente, embora reconheça a dificuldade. "Vai ser muito trabalho, mas estamos confiantes", disse ele, para quem o depoimento de Pimenta é um "conjunto de mentiras".
"Vamos enfrentar esses fatos, as dificuldades são muitas. Esconderam da defesa durante seis anos essa delação premiada", disse o advogado.
A Justiça Federal ainda não marcou o julgamento de Antério Mânica. Seu advogado, Marcelo Leonardo, diz que seu cliente não tem participação nas mortes. Tanto Pimenta quanto Erinaldo não citaram o envolvimento de Antério, ex-prefeito de Unaí.
Por causa da influência política dos irmãos Mânica em Unaí, a Justiça Federal transferiu o julgamento para Belo Horizonte.
Os outros dois intermediários que irão a julgamento são José Alberto de Castro e Humberto Pereira da Silva. A reportagem não localizou a defesa desses acusados.