Desvio bilionário
Vítima foi condenada pela Justiça por corrupção
Luiz Antonio Paolicchi foi secretário municipal da Fazenda durante a gestão do ex-prefeito de Maringá Jairo Gianoto, entre 1997 e 2000. Juntos, eles foram responsáveis por um dos maiores desvios de dinheiro público que se tem notícia no Paraná. O esquema capitaneado pelo ex-secretário foi avaliado em mais de R$ 1 bilhão em valores atualizados, segundo o Ministério Público (MP).
De acordo com promotor José Aparecido da Cruz, que acompanha o caso no MP, a soma das ações ajuizadas entre 2000 e 2011 é de R$ 84 milhões, em valores não atualizados. Desse total, R$ 51 milhões são referentes a ações já julgadas. "Se for atualizado e adicionadas as devidas multas, chegaria a R$ 800 milhões", diz.
Vida de luxo
Com o dinheiro desviado, Gianoto e Paolicchi adotaram um estilo de vida luxuoso e de gastos extravagantes. A dupla comprou aviões, fazendas, colheitadeiras, insumos agrícolas e carros de luxo. A Justiça comprovou que o ex-prefeito depositou o dinheiro do município na conta da esposa e que Paolicchi investiu cerca de R$ 16 milhões em empresas de terceiros. Cerca de R$ 2,8 milhões serviram para pagar parte de um helicóptero.
Depois que as denúncias vieram à tona, Paolicchi teve sua prisão decretada e foi para a Itália. Permaneceu foragido por 51 dias, mas foi preso ao voltar para o Brasil, em 7 de dezembro de 2000. Em outubro de 2011, ainda restavam duas ações para serem julgadas, uma de aproximadamente R$ 23 milhões e outra de R$ 9 milhões, em valores não atualizados.
Três homens e uma mulher foram presos na manhã de ontem pela Polícia Civil acusados de envolvimento na morte do ex-secretário da Fazenda de Maringá, Luiz Antônio Paolicchi. Entre os detidos está o companheiro da vítima, Vágner Eizing Ferreira Pio, de 25 anos, que teria sido o mandante do crime. Paolicchi, de 54 anos, foi encontrado morto na noite de 27 de outubro, no porta-malas de seu carro, no distrito de Floriano. Os suspeitos foram presos em Paranavaí, no Noroeste do estado, após quase um mês de investigação. Segundo o delegado Nagib Palma, entre as motivações do assassinato estava o interesse de Pio em receber uma pensão de viuvez e herança, já que ele e o ex-secretário viviam em união estável há três meses em comunhão universal de bens.
O acusado ainda queria evitar que Paolicchi se apropriasse de uma indenização que ele, Pio, receberia de uma ação trabalhista. O crime também teria sido cometido para pagar uma dívida que o ex-secretário tinha com outro suspeito do homicídio, Éder Ribeiro da Costa, cunhado de Pio, que, segundo a polícia, teria efetuado os disparos.
"A vítima [Paolicchi] era usuária de cocaína e devia dinheiro para o cunhado do Vágner. Em depoimento, Vágner disse que apanhava de Paolicchi e por isso resolveu se vingar também. Ele confessou que iria receber pensão por ser viúvo e herdaria bens materiais", disse o delegado.
Além de Pio e Costa, a polícia também prendeu Arthur Vacelai Paulino (que teria escondido a arma utilizada no crime) e Vanessa Ferreira Eizing (irmã de Pio, acusada de ajudar no planejamento do assassinato). Os quatro estão detidos na 9.ª Subdivisão Policial (SDP) de Maringá e todos teriam confessado a participação no crime.
O homicídio
Paolicchi foi morto no fim do mês de outubro, provavelmente após deixar o seu companheiro em um hospital para visitar um paciente. No trajeto para casa, ele foi surpreendido e morto com quatro tiros, que atingiram a cabeça, o pescoço, uma das axilas e o abdome. O corpo foi encontrado na noite do dia 27, amarrado no porta-malas do próprio carro, que estava abandonado em uma propriedade rural. Quando isso aconteceu, Pio já havia informado a polícia sobre o suposto desaparecimento de Paolicchi.
O crime envolveu a família do companheiro do ex-secretário. Segundo Nagib, o pai de Pio participou do assassinato, mas, por enquanto, não foi expedido mandado de prisão contra ele. No momento, a polícia trabalha com duas hipóteses. A primeira é de que o sogro de Paolicchi teria levado Costa até o apartamento da vítima. O autor dos disparos teria então se escondido no porta-malas do carro do ex-secretário para surpreendê-lo e assassiná-lo. A segunda hipótese é de que Costa teria entrado no carro no trajeto entre o apartamento e o hospital.
"Ele [Paolicchi] foi levado para o distrito de Floriano. Lá amarraram a boca dele com uma fita e o assassinaram dentro do carro. O pai do Vágner [Pio] foi buscar Éder no local e de lá foram embora para Paranavaí de moto. Isso o Éder já confessou", contou o delegado.
Chip de celular levou polícia aos suspeitos
O registro de um chip de celular foi essencial para a polícia chegar aos suspeitos do assassinato do ex-secretário da Fazenda de Maringá. De acordo com o delegado Osnildo Lemes, um dos envolvidos no crime colocou o próprio chip no celular de Paolicchi. Ele não teria usado o aparelho, mas o telefone registrou o número. Ao pedir a quebra do sigilo do celular da vítima, a polícia passou a rastrear o número do chip. Foi assim que os investigadores ouviram várias conversas entre os quatro suspeitos, que comentanvam sobre a repercussão do crime na imprensa.
Imagens gravadas por câmeras de segurança também foram usadas durante as investigações. Outra prova apresentada pelos policiais foi a chave do carro de Paolicchi, encontrada na casa de um dos presos. A operação que culminou na prisão dos quatro acusados foi denominada de Nero, em referência ao imperador romano tido como homossexual e amante de festas. De acordo com Nagib Palma, as investigações sobre o caso seguem até que todas as dúvidas sejam respondidas.
Sem tortura
O Instituto Médico Legal (IML) de Maringá descartou a hipótese de que Paolicchi tenha sido torturado antes de morrer. Segundo o médico legista Airton Severino Piazza, não havia sinais de violência, apenas tiros e a falta de alguns dentes. "Os tiros arrancaram alguns dentes da vítima, o que provocou especulações de que ele tivesse sido torturado e tivera os dentes arrancados. Mas realmente foram as balas que arrancaram", disse.
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