Aparelhado
Sorriso prateado deixa de ser privilégio
O estudante Jhoni Rodrigues Machado (foto), de 16 anos, vem de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, para fazer tratamento odontológico em uma clínica no centro da capital. "Foi uma indicação", conta. Filho de um metalúrgico e uma auxiliar de limpeza, ele colocou aparelho ortodôntico há um mês. Antes, quando os pais não conseguiam pagar pelo tratamento particular, ele restaurava os dentes no setor público. "Demora e eu não gostava do serviço", diz.
Dentes a menos Tratamento é uma "compra" parcelada
Foi depois de fazer uma restauração que a aposentada Simone Aparecida Firmino decidiu que podia investir para melhorar o sorriso. "Meus dentes eram pequenininhos", diz. Colocou quatro facetas de porcelana e fez outros tratamentos estéticos na clínica Odonto Excellence, perto da casa dela, em Santa Felicidade. Com renda mensal de menos de R$ 1 mil, Simone já pagou três das 24 parcelas de R$ 130. Está feliz com o resultado. Divorciada, queria dar uma repaginada no visual.
Não foi a primeira vez que Simone buscou melhorar a aparência dos dentes. Procurou duas clínicas, mas os orçamentos ficaram além das possibilidades de pagamento. Mas também já sentiu na boca o que representa a espera pelo serviço público. Em 2006, estava com dor de dente e procurou a unidade de saúde. Lá, fez um procedimento paliativo e recebeu um curativo. Foi informada de que precisava esperar vaga para tratamento de canal. Aguardou por tanto tempo que a situação foi se agravando. "Acabei perdendo dois dentes", diz.
11% dos dentistas do mundo estão no Brasil, país com maior número de profissionais.
54 mil consultas para pacientes que procuraram o sistema público de Odontologia pela primeira vez foram ofertadas no primeiro semestre do ano.
Uma combinação de fatores tem levado cada vez mais pessoas às cadeiras odontológicas: a melhoria nas condições financeiras de uma parcela significativa da população que agora pode pagar por tratamentos; a disparada no número de dentistas, criando uma concorrência mais acirrada, e investimentos em programas governamentais, como o Saúde da Família e o Brasil Sorridente. Tudo isso aliado ao lento despertar de que a saúde bucal não é menos importante do que o cuidado com o resto do corpo.
INFOGRÁFICO: Veja os avanços no setor odontológico
Tanto a esfera privada como a pública ampliaram a oferta de serviços. Quem confirma é Roberto Eluard da Veiga Cavali, presidente do Conselho Regional de Odontologia do Paraná (CRO-PR). No estado, o número de clínicas odontológicas aumentou 381% em uma década saltando de 452 em 2004 para 2.173 em 2014, de acordo com dados do CRO-PR. A explicação é de ordem prática: há mais profissionais atendendo no mesmo espaço. Além de dividirem os custos, eles têm mais chance de reunidos em clínicas serem cadastrados pelos planos de saúde odontológicos, que não contratam autônomos.
Apesar do processo de popularização das clínicas e dos preços baixos que algumas praticam, Cavali afirma que quase não chegam reclamações e denúncias de má qualidade dos serviços. Ele comenta que todos os produtos precisam ser autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Há materiais com maior ou menor durabilidade, mas dificilmente materiais não recomendados para o uso.
Só na Praça Rui Barbosa e nos arredores, a reportagem da Gazeta do Povo contou 16 clínicas odontológicas. Mesmo número de salões de beleza talvez não seja coincidência, uma vez que o apelo estético também tem sido forte nas clínicas, repletas de cadeiras na recepção. Algumas informam que o valor mínimo da parcela é de R$ 40.
Muitos consultórios desceram do segundo andar dos prédios (ainda reservados para escritórios de advocacia e locações de trajes de festa) e agora dividem espaço no térreo, com lojas de roupas e lanchonetes. O modelo do consultório de dentista com apenas um profissional não é mais uma tendência. A dificuldade para estabelecer a clientela nos primeiros anos de profissão é um dos principais empecilhos. Além disso, os chamados custos fixos, como pagamento pelo serviço da secretária e aluguel podem ser rateados em clínicas com mais profissionais.
De recém-formado a empresário
No mesmo momento em que organizava os preparativos para a formatura em Odontologia, no final de 2010, Shadi Abdulla também cuidava das obras para inaugurar sua primeira clínica. Aproveitando um imóvel da família, abriu a Odonto Center, na Rua Pedro Ivo. O irmão Jorge, também dentista, virou sócio. O investimento inicial foi de R$ 170 mil. No espaço com oito cadeiras, quatro dentistas se revezam. "Muita gente procura, mas o mercado está cheio", diz. Ele conta que recebe muitos clientes que desistiram de esperar pelos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Os irmãos abriram mais uma clínica e estão terminando as obras para inaugurar a terceira, todas no Centro de Curitiba.
Melhorar a autoestima é um dos objetivos de quem procura a clínica. Pode ser o viúvo que está em busca de um novo amor e não quer mais mergulhar a dentadura no copo dágua à noite. "Muitos querem sorrir na entrevista de emprego", conta Abdulla. Mas a busca por implantes, diz o dentista, ainda é considerada pequena. "Muitos nos procuram, têm vontade, mas ainda não têm condições de pagar". O serviço, que inclui cirurgia, não sai por menos de R$ 1 mil e em algumas clínicas da cidade chega a custa mais de R$ 2 mil por implante com prótese. Mesmo o pagamento parcelado em até 48 vezes se torna inviável para os pacientes que precisam de muito mais do que um implante.
Implantes e aparelhos não são ofertados em Curitiba
Um dos responsáveis pela ampliação da oferta de tratamento odontológico é o programa Brasil Sorridente, do governo federal. De acordo com Gilberto Pucca, coordenador nacional de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, a cobertura do serviço passou de 47 milhões atendidos em 2004 para 80 milhões de beneficiados atualmente. "Saímos de uma situação em que praticamente poucas pessoas tinham acesso", comenta.
Havia uma imensa demanda reprimida. Até 2004, complementa Pucca, não eram ofertadas próteses pelo serviço público. A partir daí, mais de 2,1 milhões de dentaduras foram entregues. A ordem foi priorizar quem não tinha dentes e zerou a necessidade de prótese total em adolescentes e adultos jovens. Em 2010, implantes e aparelhos ortodônticos passaram a ser oferecidos em várias unidades de saúde Brasil afora. Em Curitiba, contudo, esses procedimentos ainda não estão disponíveis nos postos. Wellington Zaitter, coordenador de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde, explica que está sendo realizado um levantamento da demanda.
A qualidade do serviço prestado pelo setor público na capital paranaense é elogiada pelo presidente do Conselho Regional de Odontologia do Paraná, Roberto Eluard da Veiga Cavali. A estimativa é de 60% dos moradores de Curitiba usem o sistema. A oferta de atendimento em horário expandido, das 17 às 21 horas em quatro postos, teria permitido que trabalhadores que chegam em casa depois das 18 horas pudessem usar o serviço. Só no primeiro semestre, 1,3 milhão de procedimentos odontológicos foram realizados. Outro indicativo de que o serviço está sendo mais procurado é que, de janeiro a julho, 54 mil pessoas que nunca tinham procurado os postos foram atendidas.
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