O adolescente de 16 anos, apontado por policiais da DH (Divisão de Homicídios) do Rio como responsável por esfaquear o médico Jaime Gold, 57, na terça-feira (19), na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul do Rio, chegou nesta manhã de sexta (22) a um centro de menores de idade infratores, na Ilha do Governador, zona norte da cidade.
Ainda na tarde desta sexta (22), o adolescente será levado para audiência na Justiça onde deve ser aplicada uma nova medida socioeducativa. O garoto tem em sua ficha 15 passagens pela polícia. Nunca ficou internado.
O menor de idade foi apreendido na manhã desta quinta (21) por policiais da DH, onde passou a noite. Em depoimentos, acompanhado por sua mãe, uma tia e um policial com graduação em Psicologia, o adolescente negou que tenha atacado e roubado a bicicleta do cardiologista. Admitiu apenas a prática dos roubos.
O delegado Rivaldo Barbosa, da Homicídios, disse que chegou ao jovem a partir do relato de uma testemunha e de imagens de câmeras de segurança. Ele garante ter a certeza de que o garoto atuou no assalto ao médico. A bicicleta de Gold não foi recuperada até o momento.
“Me chamaram a atenção a frieza do infrator e a forma covarde, sem nenhum sentimento pelo outro ser humano (como ele agiu). Foi uma forma brutal como o médico foi atingido. Ele recebeu no mínimo quatro golpes. A ação foi sorrateira, por trás, com traição”, disse.
Nos primeiros quatro meses de 2015, cinco roubos seguidos de morte tiveram o uso de facas no Rio. É o mesmo número do primeiro quadrimestre de 2014.
O jovem é morador da favela do Mandela, zona norte do Rio, a cerca de 20 quilômetros da Lagoa Rodrigo de Freitas. É para lá que leva as bicicletas roubadas.
Na comunidade, as bicicletas eram vendidas para outras pessoas, usadas em novos assaltos ou trocadas por drogas com os traficantes da Mandela ou do Jacarezinho. As duas comunidades possuem UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Em sua casa, os policiais encontraram nove bicicletas. Uma delas, canadense, da marca Rocky Mountain foi adquirida em 2012, nos Estados Unidos. Ela está avaliada em R$ 30 mil.
A ficha do adolescente na polícia do Rio é extensa: 15 anotações criminais até esta quinta (21). Doze referem-se a roubos e furtos, mas há registro também por uso de drogas e desacato.
As áreas de atuação são o entorno da própria Lagoa, nas ruas do Leblon, Ipanema e Copacabana - ele praticou 11 crimes na zona sul, região mais rica da cidade.
As medidas judiciais aplicadas ao adolescente totalizaram, neste período, no máximo três meses em unidades para menores de idade. Nunca ficou internado em regime fechado. Ele respondeu a nove processos, sendo que cinco foram considerados improcedentes porque as vítimas não compareceram. As penas aplicadas a ele, apesar desta ficha, foram apenas advertências, liberdade assistida ou semiliberdade.
O primeiro caso aconteceu em 2010 quando ele tinha 12 anos ao praticar um roubo na Lagoa.
Em novembro do ano passado, policiais da UPP Mandela apreenderam o jovem em um dos acessos da favela. Ele levantou suspeitas ao chegar ao local numa bicicleta de cor laranja do programa Bike Rio, de aluguel das “magrelas”.
Após ser levado para a delegacia, o adolescente foi conduzido para o Juizado de Menores. Na ocasião, a sua ficha já registrava 11 passagens. A Justiça decidiu então indiciar sua mãe por abandono numa tentativa de frear as ações dele nas ruas. Não adiantou.
Ele se envolveu em mais quatro roubos, todos com o uso de faca, na zona sul do Rio. A sua última apreensão havia acontecido em 16 de janeiro, no Jardim Botânico, na zona sul.
Na ocasião, policiais militares o apreenderam após ele praticar um furto. Apesar de ser uma ação sem prática de violência, a Justiça entendeu que ele deveria cumprir semiliberdade por sua ficha judicial.
O adolescente cumpriu a medida por um mês até fugir dias antes do Carnaval. Seu mandado de busca e apreensão estava em aberto até esta quinta quando os policiais civis o apreenderam.
“Temos que fazer uma reflexão sobre tudo isso. Nesse caso (a morte do médico), ele já está detido em razão de uma decisão judicial. Mas esse caso, assim outros, depende de uma questão social”, disse o delegado.
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