A advogada da jovem de 16 anos que foi vítima de um estupro coletivo na zona oeste do Rio vai pedir o afastamento do delegado Alessandro Thiers das investigações. Segundo a advogada Eloísa Samy Santiago, o titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) teria conduzido o interrogatório de forma inadequada. “Ele perguntou à vítima se ela tinha por hábito participar de sexo em grupo”, contou.
A jovem prestou um segundo depoimento à polícia ontem à noite. Após meia hora de relato, começou a chorar e a se dizer envergonhada, o que levou a polícia a interromper os trabalhos. Segundo a advogada, o episódio foi antes da pergunta em questão.
Além de Thiers, participaram do interrogatório a delegada Cristiana Bento, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV), e um inspetor de polícia da DRCI, que é psicólogo, de acordo com a advogada. Cristiana e o inspetor tiveram um comportamento exemplar, ao contrário de Thiers, disse Eloísa.
A advogada afirmou que está tentando contato com a Promotoria da Infância e da Juventude e não descarta outros meios de representar contra o delegado. “O depoimento teria sido muito mais produtivo sem ele”, disse. Procurada, a Polícia Civil ainda não se manifestou sobre o caso.
No primeiro depoimento, ainda na madrugada de quinta (26), a adolescente contou que foi visitar o namorado no sábado (21) no morro da Barão, na Praça Seca, zona oeste carioca, e só se lembra de ter acordado no dia seguinte, “dopada e nua”, em uma casa desconhecida e cercada pelos agressores. Só soube na terça-feira (24) que um vídeo com imagens suas após o estupro circulava nas redes sociais e em sites de relacionamento.
Foi a divulgação do vídeo que despertou a atenção das autoridades e que levou à distribuição do caso para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI).
Ontem à tarde, os delegados Alessandro Thiers e Cristiana Bento concederam entrevista coletiva à imprensa ao lado do chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso. Durante a entrevista, o caso chegou a ser tratado pelos delegados como “suposto estupro”, e Thiers declarou que a polícia havia diversas linhas de investigação, inclusive para verificar “se houve ou não estupro”. O chefe de Polícia esclareceu depois que a polícia trabalha com indícios.
“Há indícios veementes de que houve estupro, mas não podemos afirmar ainda se houve ou não, ou de que forma houve. Não podemos nos basear no ouvi dizer. Só o exame de corpo de delito vai apontar se houve estupro ou não. O laudo pode trazer uma certeza ou uma dúvida. Pode demandar outra diligência para sanar uma dúvida que surge no próprio laudo”, disse Veloso.
Apesar de, até ontem, quatro suspeitos terem sido identificados, a polícia não pediu a prisão de nenhum deles. Na noite desta sexta (27), o secretário estadual de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, justificou que faltava um “detalhe jurídico”.
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