Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do transporte da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o advogado Sacha Reck negou que tenha havido favorecimento a empresas na licitação que renovou as concessões do transporte coletivo em 2012. Reck participou da elaboração do edital de concorrência e já representou uma empresa do interior de São Paulo, ligada a grupo Constantino, e o Sindicato das Empresas de Curitiba e região (Setransp), que tem uma empresa que participou da licitação no Distrito Federal. Esse vínculo com os dois lados da mesma concorrência foi o motivo da convocação para prestar esclarecimentos aos deputados, em sessão que foi realizada na manhã desta quinta-feira (1.º).
A Viação Marechal, que atua em Curitiba, foi uma das vencedoras da concorrência no Distrito Federal. Reck nunca atendeu a empresa diretamente, mas reconhece que ela faz parte do Setransp, sindicato que ele representa no Paraná. O sistema de transporte de Curitiba e região metropolitana já foi alvo de CPI na Câmara Municipal, auditoria do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TC-PR) e da própria prefeitura. Outra vencedora da concorrência foi a Viação Piracicabana, ligada ao Grupo Constantino. Reck já prestou consultoria para uma empresa do interior de São Paulo, a Transporte Coletivo Grande Bauru, num caso em Marília. Essa empresa possui um sócio que é da família Constantino. “Sobrenome é uma coisa. Há famílias com sobrenome e tradição e com diversas empresas na mesma área, o que não significa que são do mesmo grupo econômico”, argumenta.
O presidente da CPI, deputado Renato Andrade (PR), afirmou que a situação “é, no mínimo, imoral”. Já a deputada Celina Leão (PDT), que chegou a acompanhar a CPI do transporte em Curitiba, onde Reck também depôs, disse que “o processo da legalização da corrupção foi o edital”. O advogado negou o conflito de interesses e, em sua defesa, apresentou um parecer do jurista Marçal Justen Filho, alegando que as ações não são vinculantes. Reck afirmou que apenas emitia pareceres durante seu trabalho como consultor do consórcio Logit-Logitrans, que gerenciou a licitação do transporte, e que eles poderiam ser acatados ou não pelo então secretário de transportes do Distrito Federal José Walter Vazquez. A empresa Logitrans, que participa do consórcio, tem entre os sócios o pai e o irmão de Reck.
A CPI aprovou, por unanimidade, a quebra do sigilo telefônico de Sacha Reck, Garrone Reck (seu pai e sócio da Logitrans), do ex-diretor do DFTrans, Marco Antônio Campanella e de outros envolvidos no processo.
Sacha Reck já disponibilizou, espontaneamente, documentos sobre sua movimentação financeira e fiscal, mas se mostrou reticente à quebra do sigilo telefônico. “Eu vim com um monte de provas aqui. Abri todas as minhas contas, vim com uma pilha de extrato bancário, de imposto de renda. Não autorizei a quebra do sigilo telefônico porque meu telefone é extensão do escritório e meus clientes têm a garantia do sigilo profissional”, explicou.