Recife - Começou a funcionar ontem no campo de futebol do 2º Comando da Aeronáutica (Comar), em Boa Viagem, no Recife, um hospital de campanha da Aeronáutica para atender a casos de baixa complexidade e prestar serviços ambulatoriais. A pedido do governador Eduardo Campos, o hospital provisório foi implantado por determinação do Ministério da Defesa para desafogar as emergências das unidades de saúde da região metropolitana do Recife, em crise diante de movimento demissionário de médicos plantonistas.
O hospital de campanha funciona em 12 tendas, com 50 profissionais entre médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem da Marinha, da Aeronáutica e do Exército. Os casos de Pediatria, Ortopedia, Ginecologia e Clínica Médica são atendidos depois de triagem feita em frente ao aeroporto dos Guararapes, próximo ao 2º Comar. Os que passam na triagem vão de ônibus ao hospital de campanha e retornam na mesma condução depois de atendidos e medicados quando há disponibilidade da medicação indicada. Até as 15h30 de ontem, 153 pessoas haviam sido atendidas, a grande maioria com problemas ortopédicos.
O tempo de permanência do hospital de campanha vai depender do rumo das negociações entre a Secretaria Estadual da Saúde de Pernambuco e os médicos demissionários 242, segundo a secretaria e cerca de 400, segundo o sindicato da categoria. A maioria, nas áreas de cirurgia geral e clínica médica.
Impasse
A proposta do governo apresentada na segunda-feira, de aumento de 24% para os plantonistas (os vencimentos subiriam para R$ 3,6 mil) e de 21% para os diaristas (que chegariam a R$ 2,3 mil), não foi aceita pela categoria. Eles querem isonomia salarial dos plantonistas com os neurocirurgiões, os quais, desde o ano passado, tiveram os salários elevados para R$ 5,7 mil. Para os diaristas, reivindicam um salário de R$ 3,4 mil. As negociações, que haviam sido paralisadas, voltaram a ocorrer a partir de solicitação do Ministério Público Estadual, com o apoio da Associação dos Magistrados do Brasil e da seccional pernambucana da Ordem dos Advogados do Brasil.
Uma assembléia na noite de ontem definiria, de acordo com a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, os rumos da crise: caso os médicos aceitem a proposta do governo, tudo volta ao normal e o hospital de campanha poderá ser rapidamente desativado. Caso contrário, os demissionários devem começar a deixar seus postos a partir de sexta-feira e o hospital de campanha deverá permanecer por tempo indeterminado. O estado já iniciou o processo para contratar 242 médicos.
O vice-presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, Sílvio Rodrigues, destacou também a insuficiência no número de profissionais no serviço público pernambucano. Segundo ele, essa foi a razão do fechamento, nos últimos três meses, da UTI pediátrica do Hospital Osvaldo Cruz, do setor de pediatria do Hospital Barros Lima e da clínica médica do Hospital Otávio de Freitas todos no Recife , além da Maternidade Jesus Nazareno, em Caruaru, no Agreste.
O sindicato também não concorda com a decisão anunciada pelo governo do estado de implantar fundações públicas de direito privado para administrar os hospitais, que continuariam sendo públicos.