O Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, é o terminal que mais fecha por causa de neblina, em comparação com outros seis grandes aeroportos do Brasil. Somente no primeiro semestre deste ano, o Afonso Pena esteve fechado durante 88 horas somadas, acumuladas ao longo de 33 dias em que o controle de voo foi obrigado a interromper pousos ou decolagens devido ao nevoeiro. Por causa disso, um total de 168 voos tiveram de ser cancelados.
Esta quantidade de horas paradas é mais que o triplo da registrada pelo segundo colocado, o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, que teve um total de 27 horas. Dados de anos anteriores, quando existentes, indicam a manutenção de Curitiba na liderança desse ranking. O levantamento foi feito pela Gazeta do Povo junto aos dez aeroportos mais movimentados do país. As administrações da Infraero nos aeroportos Salgado Filho (Porto Alegre), Santos Dumont (Rio de Janeiro) e Confins (Belo Horizonte) não enviaram os dados até o fechamento desta edição.
O problema com nevoeiros afeta mais diretamente os aeroportos em regiões de clima subtropical, como é o caso de Curitiba. Nos aeroportos do Nordeste não há registro de fechamento por neblina. No Rio de Janeiro e em Brasília, os tempos de interrupção nos seis primeiros meses de 2011 somaram cerca de 3 horas cada normalmente em intervalos de alguns minutos.
Curitiba, além de estar em um clima típico de neblinas mais intensas, ainda tem seu aeroporto construído em uma região mais favorável à ocorrência desse tipo de fenômeno. Paulo Barbieri, meteorologista do Instituto Tecnológico Simepar, explica que a cidade de São José dos Pinhais tem relevo de altitude, o que cria uma condição favorável a mais para a formação de neblina. "O solo perde calor muito rápido, e o ar na superfície esfria. Com isso, se forma a neblina, que não deixa de ser uma nuvem que está próxima do solo", explica. Esse tipo de formação costuma ocorrer com mais intensidade no inverno. Além da temperatura baixa, o céu aberto acelera a retirada do calor do solo. "Com o tempo nublado já não ocorre", ressalta Barbieri.
Sinais de rádio
A principal solução apontada para o problema é a instalação do equipamento ILS-3, um sistema que orienta o pouso por meio de sinais de rádio. Atualmente, o Afonso Pena possui as versões 1 e 2 do ILS. Esses equipamentos têm um alcance menor, e não podem ser usados em casos de nevoeiro mais denso.
O ILS-3 foi prometido pelo Ministério da Defesa e pela Infraero até o final deste ano. De acordo com a assessoria de imprensa da Infraero em Curitiba, no entanto, ainda não há previsão para a instalação do equipamento. Caso o Afonso Pena realmente venha a ganhar o ILS-3, será o primeiro do Brasil a contar com essa tecnologia.
Ser o precursor, porém, obrigará o aeroporto de Curitiba a subutilizar o equipamento ao longo dos primeiros anos após a instalação. Analistas do setor, além da própria Infraero, avaliam que levará algum tempo até que os sistemas da frota aérea brasileira esteja adaptada ao ILS-3. "Os aviões têm que ter equipamento próprio para ler os dados do ILS-3, assim como os pilotos precisam estar treinados para operar com o novo sistema. No Brasil, ainda não temos isso", avalia Valmor Weiss, empresário do setor de transporte aéreo e terrestre e integrante do Grupo de Trabalho Pró-Aeroporto Afonso Pena.
O ex-comandante e consultor na área de aviação Arnaldo Macedo Caron lembra também que um pouso "às cegas", orientado por aparelhos, necessita uma pista mais longa. "Com zero de visibilidade, o piloto precisa pousar com mais velocidade. Isso porque, caso ocorra uma emergência, ele pode arremeter normalmente. Essa velocidade a mais precisa ser eliminada com a nave no chão, por isso a pista precisa ser mais longa", explica.
Dentre o pacote de obras visando a Copa do Mundo de 2014, está a construção de uma terceira pista no Afonso Pena, com estimados 3,4 mil metros de extensão (1,2 mil a mais que a pista principal atual). Segundo Caron, mesmo esse tamanho de pista não é o ideal para pousos por instrumentos. "Precisaria ter acima de 4 mil metros", estima.