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Fluvia Lacerda é uma das modelos plus size mais famosas do Brasil | Divulgação
Fluvia Lacerda é uma das modelos plus size mais famosas do Brasil| Foto: Divulgação

Faltam roupas GG nas vitrines

Modelo ou não, quem está acima do peso, no Brasil, costuma reclamar da falta de requinte nas lojas de roupas. Flúvia Lacerda, nos Estados Unidos há 13 anos, diz que o cliente plus size daqui é obrigado a pensar primeiro no tamanho, depois no modelo. "As marcas são tão poucas que seus donos estão nadando em dinheiro, e a roupa não é nada de mais."

Ela tenta emplacar seu nome em uma coleção. "Já recebi propostas, mas nada que fosse razoável. Não quero só colocar meu nome, quero desenhar as roupas. Acho incrível que não se tenha investido nisso por aqui. Ninguém quer ficar rico?"

Panos

A estilista Mônica Angel, dona da grife Palank, especializada em manequins acima de 44, diz que já foi pior. "Quando abri a primeira loja, em 1988, as pessoas gordas não se vestiam, elas se cobriam com panos." Hoje, com 11 lojas, ela se considera uma vencedora. "Posso dizer, pelo menos, que um estilista de tamanhos grandes existe, assim como o chef de cozinha e o enólogo."

A empresária Eliane Chacan, da grife Kauê, diz que no começo sua loja era apenas "especializada em tamanhos grandes". "Passamos a fazer uma moda jovem, mas só do dia a dia." As roupas custam entre R$ 39 e R$ 170. Eliane reconhece que a executiva que quer algo mais formal vai ter de "investir em viagens".

Um dos motivos pelos quais esse mercado não produz roupas sofisticadas é que a demanda pelos modelos simples parece suficiente. Eliane diz que, desde 1992, abriu 12 lojas e a demanda continua grande. "Mesmo com o advento da cirurgia de redução de estômago, e apesar de o número de lojas ter aumentado, a quantidade de clientes não para de crescer."

Agência Estado

Um metro e setenta e quatro de altura, 68 quilos, 98 centímetros de quadril. A dona das medidas já foi chamada de gorda, inadequada e, algumas vezes, despachada de editoriais de moda por não entrar em um jeans tamanho 38. "Ficava arrasada, chorava, mas não queria voltar para Jundiaí", diz a modelo Stefanie Medeiros, de 18 anos, que já tomou muito chá de cadeira na agência Ford Models, esperando aparecer trabalho.Ultimamente, ela está mais alegrinha. Depois de passar a adolescência tomando shakes dietéticos no café da manhã ("e mais nada no resto do dia") e ainda se submeter a uma lipoaspiração entre o busto e o joelho que sugou três litros de gordura ("recuperei tudo"), ela agora integra um departamento da agência chamado Ford +, criado recentemente para abrigar as "fora de medida".

Segundo a vice-presidente da Agência, Denise Céspedes, o de­­partamento ainda está em teste. "As pessoas resistem a escalar modelos plus size. Elas deixam de trabalhar por causa de seis, sete centímetros", diz Denise, que trabalha com 15 meninas no Ford + (três brasileiras). Mesmo fora do Brasil, as plus size não costumam desfilar – são escaladas para publicidade e editoriais. Plus size é um eufemismo para quem veste manequim acima de 40.

Ao que tudo indica, tão cedo a Ford não vai ter concorrentes. As agências do mesmo tamanho não pretendem entrar nesse mercado. "Não temos ‘gostosas’ em nossa cartela de modelos. Trabalhamos com rostos diferentes, não necessariamente bonitos", diz Márcio Garcez, da agência Way. "Gor­­dinha não tem de desfilar, tem de ir para a academia malhar", afirma Eli Hadid, da Mega.

Para a moda, a medida mais importante, depois da altura, é o quadril. Tem de medir entre 89 cm e 90 cm. No Ford +, dá para ser maiorzinha.

Biquíni

Gary Dakin, há 14 anos no mercado americano de modelos plus size, diz que levou tempo até conseguir emplacar seu time. "Eu tinha de acompanhar as meninas nos trabalhos. Se elas fossem sozinhas, os produtores ligavam, dizendo: ‘Você mandou uma gorda!’ Foi preciso aparecer uma modelo como a Crystal para o mercado acreditar que poderia dar certo."

Crystal Renn, hoje manequim 42, passou anos tentando perder 22 centímetros de quadril – tornou-se, inclusive, anoréxica. Crystal conta que, quando tinha 16 anos, seu agente garantiu que ela poderia ficar igual à modelo da foto, mostrando uma revista com Gisele Bündchen.

Acima do peso

Existem no Brasil cerca de 40 milhões de adultos acima do peso, de acordo com o último censo do IBGE. Eles têm um índice de massa corporal (IMC) maior que 25, parâmetro estabelecido pela Orga­­nização Mundial de Saúde (OMS). O IMC é calculado dividindo-se o peso pelo quadrado da altura.

O da modelo potiguar Flúvia Lacerda, de 29 anos, a primeira GG a bater o bumbo no Brasil, é.... difícil calcular, já que ela não revela o peso. Digamos que tenha 85 kg (para 1,74 m); seu IMC seria 28.

É a segunda visita profissional de Flúvia ao Brasil. Na primeira, há cerca de um ano, ela diz que as pessoas reagiam incrédulas quando abria seu book. "Não existe uma formalidade no trabalho com plus size aqui. Então, a menina trabalha como atendente de telemarketing durante a semana e ganha R$ 300 para fazer uma foto no sábado. O fotógrafo é o vizinho dela, sabe?"

Apesar de não revelar quantos quilos tem, Flúvia afirma que vive bem com eles. "Se fico dizendo ‘Ah, meu Deus, como eu tô gorda!’, isso vai aparecer na foto."Denise Céspedes diz que quase 1,1 mil moças se candidataram desde que divulgou o Ford +. Finda a sessão de fotos, Stefanie caminha pelas dependências da agência com um sapato salto 15, que ela carrega com os pés, como se fosse uma menina brincando com a roupa da mãe. Para quem está de passagem, aquilo parece não ter muito sentido. Se tivesse escolhido ser biblioteconomista, engenheira, ou qualquer profissão que não exigisse dela um quadril de 90 centímetros, muito provavelmente seria a mulher mais bonita do escritório, da empresa, do prédio, da rua toda. Em tempo: pouco antes do fechamento desta reportagem, Stefanie foi "bookada" em Nova York. Voaria para lá ainda neste fim de semana.

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