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Reportagem especial

Agricultor lidera ação das famílias atingidas por barragens

Usina de Salto Santiago, construída na década de 70. Famílias da região das áreas alagadas pelos reservatórios das hidrelétricas precisam deixar suas terras | Aniele Nascimento / Gazeta do Povo
Usina de Salto Santiago, construída na década de 70. Famílias da região das áreas alagadas pelos reservatórios das hidrelétricas precisam deixar suas terras (Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo)
Margem do reservatório da Usina de Salto Caxias: água parada e controle da vazão |

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Margem do reservatório da Usina de Salto Caxias: água parada e controle da vazão

Nos reservatórios é possível observar os galhos secos das copas das árvores que foram submersas |

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Nos reservatórios é possível observar os galhos secos das copas das árvores que foram submersas

José Hélio Mecca é um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens |

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José Hélio Mecca é um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens

Ele mora há 13 anos em um assentamento em Chopinzinho |

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Ele mora há 13 anos em um assentamento em Chopinzinho

Casinha antiga na localidade de Barra do Sarandi |

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Casinha antiga na localidade de Barra do Sarandi

Trecho do Rio Iguaçu visto do mirante da Vaca Branca, na localidade de Marechal, que fica a aproximadamente 1 km do local onde será construída a Usina do Baixo Iguaçu |

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Trecho do Rio Iguaçu visto do mirante da Vaca Branca, na localidade de Marechal, que fica a aproximadamente 1 km do local onde será construída a Usina do Baixo Iguaçu

Biólogo Tom Grando tenta descobrir onde fica o Salto Faraday |

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Biólogo Tom Grando tenta descobrir onde fica o Salto Faraday

O reservatório de Salto Caxias separa as cidades de Três Barras do Paraná e Nova Prata do Iguaçu |

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O reservatório de Salto Caxias separa as cidades de Três Barras do Paraná e Nova Prata do Iguaçu

Ele nunca teve muita sorte com as escolas que freqüentou. Foram apenas três anos estudando porque o primeiro imóvel que abrigava os alunos na comunidade em que vivia caiu com a força do vento. O segundo pegou fogo e o terceiro a água cobriu. Mas nada disso impediu que o gaúcho José Hélio Mecca, 42 anos, se tornasse um líder. Hoje ele é um dos coordenadores do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), criado em 1989. Mecca já viajou por todo o Brasil e foi a 15 países discutir a situação das famílias que precisam deixar suas terras para a formação dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

A história do coordenador do MAB começou no fim da década de 70 e início da década de 80. Nascido em Mariano Moro (RS), filho de pequenos agricultores, Mecca soube na época que o governo federal construiria 25 grandes hidrelétricas na Bacia do Uruguai, o que atingiria 80 municípios e milhares de famílias. Em 1984, veio o anúncio da construção das usinas de Machadinho e Itá. Essa última atingiria a família dele.

No ano seguinte, Mecca começou a militar nos movimentos sociais. As famílias de Itá e o governo federal fecharam um acordo em 1987. "Isso foi inédito no Brasil. Pela primeira vez se conseguiu fechar um acordo com o governo antes da criação da usina. Foi resultado da pressão do movimento", lembra ele.

Na negociação para resolver a situação das 3,2 mil famílias atingidas pela usina de Itá, as opções eram: troca de terra por terra, indenização em dinheiro ou reassentamento coletivo. A família de Hélio estava entre as 750 que ficaram com a terceira alternativa. Entre os anos de 1995 e 1996, famílias de três municípios gaúchos escolheram Chopinzinho (PR) para viver. Um lote ficou para Hélio, a esposa e o filho. Atualmente, as famílias da Barragem do Itá vivem em cinco reassentamentos no Paraná. Mecca continua morando no mesmo local, mas agora tem três filhos.

Uma televisão

Apesar da militância no MAB, o coordenador do movimento garante que não é contra a geração de energia, mas para ele o modelo usado no Brasil "está falido do ponto de vista da sustentabilidade". Mecca diz que é necessário que a sociedade defina que modelo de desenvolvimento quer, o que é preciso para viver. Ele, em casa, tem apenas um televisor, por exemplo, e afirma que toma todos os cuidados para economizar energia. "Não desperdiço porque sei que ali corre sangue da natureza, da terra e da gente que lutou contra o processo."

O Brasil, completa, não precisa mais gerar energia. "Não há necessidade de construir usinas nos próximos 20 anos. O Brasil tem água suficiente nas barragens para ter segurança energética." De acordo com Mecca, o setor está sucateado e se fossem feitos alguns investimentos os geradores ampliariam em cerca de 15% a 18% a sua capacidade.

Com os números na ponta da língua, o coordenador do MAB cita que os pouco mais de 1,7 mil empreendimentos construídos no Brasil já atingiram 1 milhão de pessoas, 70% delas perderam tudo o que tinham no processo de desapropriação das áreas. "O plano do governo federal é de instalar mais 1.443 usinas no país".

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