Depois de virar desafeto de grandes proprietários rurais e dos defensores do agronegócio, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, agora é alvo dos pequenos agricultores que ele declarou diversas vezes proteger. Uma das principais manifestações realizadas ontem no Grito da Terra movimento que realizou passeata e atos em órgãos públicos foi a ocupação pacífica da superintendência do Ibama no Paraná.Durante algumas horas, aproximadamente uma centena de trabalhadores rurais ocupou o prédio para forçar uma audiência com o ministro. Tudo porque desde julho, quando Minc desistiu de tentar negociar a edição de uma Medida Provisória (MP) que amenizaria as exigências ambientais para os pequenos produtores, ele teria evitado se encontrar com representantes dos agricultores familiares. Os manifestantes deixaram o Ibama depois da promessa, feita por um assessor do ministério, de que Minc atenderia uma comissão na primeira brecha na agenda, em breve.
O descontentamento dos pequenos trabalhadores rurais foi demonstrado apenas quatro meses depois de o ministro subir no carro de som durante a edição nacional do Grito da Terra, ostentando um boné da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Contag), e comprar briga com os ruralistas, a quem chamou de vigaristas. Logo depois, Minc reconheceu que exagerou e foi repreendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por causa das constantes desavenças com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes.
A aliança que Minc firmou com a agricultura familiar começou a se esfacelar quando, atendendo a pressões de movimentos ambientalistas, ele se viu forçado a recuar na decisão de brigar pelo afrouxamento das cobranças ambientais para os pequenos proprietários rurais. O movimento de agricultura familiar pede que o decreto presidencial, que exige a recomposição de áreas e o pagamento de multas por desmatamento em reservas legais, que passa a valer em janeiro, seja reconsiderado. "Muitos agricultores fizeram adaptações nas propriedades, no tempo em que a lei permitia, e não têm condições de pagar por isso", afirma o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep), Ademir Mueller.
O deputado federal Assis do Couto (PT-PR), que é da frente parlamentar pela agricultura familiar, esteve acompanhando de perto a ocupação no Ibama ontem e acredita que a pressão exercida pelos manifestantes foi legítima, mas não vê tanta resistência assim por parte do ministério, como alegado pelos movimentos sociais. "O ministro tem atendido mais aos ambientalistas, mas não virou as costas para os pequenos produtores", afirma.
O Ministério do Meio Ambiente informou, por meio da assessoria de imprensa, que o ministro mantém a postura de defesa à agricultura familiar e que um grupo de trabalho, formado por técnicos do governo e de movimentos sociais, está se reunindo periodicamente para discutir propostas de melhorias que permitam a conciliação entre preservação ambiental e proteção dos interesses dos agricultores.