Sanepar
O diretor de operações da Sanepar, Paulo Alberto Dedavid, garante que o processo para ampliação da captação já está ocorrendo em todas as cidades que precisam de novos mananciais a partir de 2015. O sistema de Curitiba, por exemplo, receberá mais água do Rio Miringuava. Está em fase de projeto uma represa, que deve estar pronta em 2016. Dedavid comenta que entre as dificuldades para conter as perdas está a idade da tubulação, algumas de 1908. Mas já existe um sistema informatizado, com válvulas que são fechadas assim que vazamentos são detectados. Além disso, equipes percorrem as ruas, de madrugada, auscultando o solo em busca de rompimentos. "A rede principal, de maior porte, tem sensores. Mas a maior parte dos vazamentos acontece nas redes finas",diz.
Dificuldades
Com tubulações antigas, Curitiba ajuda a puxar indicador
O presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, reconhece que nas grandes cidades as dificuldades são maiores. Ele cita as capitais paulista e paranaense como desafios. "São Paulo está investindo R$ 200 milhões para reduzir dois a três pontos porcentuais de desperdício ao ano", diz. Contudo, reduzir só um terço das perdas já representaria R$ 8 bilhões a mais no caixa das empresas de abastecimento.
O índice do Paraná poderia ser até melhor não fosse o alto porcentual de perdas registradas na capital, na casa de 38,1% do que é captado. "Curitiba está puxando o indicador. Além da tubulação antiga, a cidade é quase toda impermeabilizada e tem que quebrar muito para fazer consertos", pondera Carlos.
Ele ressalta, contudo, que ainda é muito mais barato corrigir do que buscar novos mananciais, que as vezes exigem linhas com dezenas de quilômetros. "A grande São Paulo já utiliza quatro vezes a água que tem e está avaliando buscar água a 80 quilômetros de distância. Imagina bombear tudo isso."
Elizabeth Juliato, que é especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas, lembra que as perdas acumulam os gastos feitos com bombeamento e produtos químicos aplicados no tratamento da água. Ela considera que a situação dos mananciais ainda não é crítica no Brasil, mas que é preciso trabalhar em estratégias de planejamento, especialmente para evitar a contaminação por poluentes hoje a principal ameaça.
Há uma incoerência no sistema de distribuição de água no Brasil: cidades que têm dificuldades para captação também registram altas taxas de desperdício. Das 100 maiores cidades brasileiras, 33 estão na lista das que precisam encontrar novos mananciais para a população até 2015. Contudo, todas essas localidades que devem investir em mais fontes de captação de água têm em comum o fato de contabilizarem perdas acima de 20% do que é coletado. Diminuir o desperdício poderia significar economia de recursos naturais e financeiros, prolongando a vida dos mananciais existentes.
De cada 100 litros captados para a Grande Curitiba, 38,1 litros não entram no caixa da Companhia de Saneamento do Parará (Sanepar), responsável pelo abastecimento da capital e de outros 344 municípios do estado. Vazamentos na rede de distribuição não são as únicas causas de desperdício, mas são as principais. Além de Curitiba, outras quatro grandes cidades paranaenses estão no rol das que precisam encontrar novos mananciais. (Veja números abaixo). Já o Paraná está em posição mais confortável, como o segundo estado brasileiro que menos desperdiça, na distribuição, a água captada e tratada.
Todos esses dados constam em um estudo encomendado pelo Instituto Trata Brasil, que combina também informações do Atlas preparado pela Agência Nacional de Águas (ANA). A pesquisa avalia quanto de água é retirada de mananciais e compara com o que é faturado pelas companhias de abastecimento. Ligações clandestinas e medições erradas ajudam a inflar o porcentual de perdas. O levantamento não considera como essa água é usada: se é para lavar calçada, se escorre displicentemente da torneira ou é aplicada em processos antiquados de produção industrial.
"Inaceitável"
Para Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, o índice nacional de desperdício, baseado nos dados das 100 maiores cidades, é inaceitável. Ele ressalta que os parâmetros internacionais, em países desenvolvidos, ficam na faixa de 10% a 15% enquanto nas principais metrópoles brasileiras oscilam de 20% a 40%. "Em Tóquio, o índice é de 3%", exemplifica. Carlos destaca que é possível resolver o problema com investimento na rede de distribuição. "O sistema é muito antigo. A maior parte é da década de 80", diz.
A informatização do monitoramento das tubulações, com sensores de vazamento, é uma das alternativas para tentar evitar os desperdícios. "Quando uma companhia particular assume o saneamento de uma cidade, antes de buscar ampliar a rede, ela tenta encontrar os vazamentos", enfatiza.
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