Vinte anos após o primeiro registro de aids no estado, o Paraná segue uma tendência nacional de interiorização da doença. Levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) de 2004 aponta que os 15 mil adultos soropositivos do estado estão distribuídos em 311 municípios o equivalente a 78% do total de 399.
Não há um levantamento anterior para se comparar a expansão do número de municípios com casos de aids nos últimos anos. Porém o histórico da Sesa mostra que até meados da década de 90 boa parte das regionais da Sesa tinham menos de cinco casos de aids nas cidades de sua competência. Na regional de Irati, por exemplo, que abrange nove municípios, até 1996 não havia registro. A coordenadora do programa estadual de DST/Aids, Ivana Kaminski, ressalta que a interiorização se intensificou no estado nos últimos dez anos. "Antes, era um ou outro caso nas cidades pequenas. Geralmente de pessoas que moravam fora, já tinham o diagnóstico e estavam voltando já em estado terminal, para ficar perto da família", explica Ivana.
Ter mais municípios descobrindo casos de aids é um sinal de que é preciso ampliar o treinamento especializado no atendimento e as campanhas de conscientização, avalia Ivana. "Aquele postinho de saúde da cidade pequena, lá longe, tem de saber como é que se diagnostica e quais as doenças oportunistas da aids, porque pode ser que a pessoa esteja entrando na unidade ou que já tenha entrado e quem a atendeu nem pensou que poderia ser aids", afirma a coordenadora do programa estadual de combate à doença.
Para a médica Rita Esmanhoto, ex-coordenadora do programa DST/Aids, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e que lida com pacientes soropositivos há mais de 20 anos, o fato de mais municípios estarem descobrindo a doença significa também que as prefeituras estão mais preocupadas em fazer testes de HIV. "Os municípios que ainda não têm casos registrados provavelmente não fizeram os testes. Não significa que ainda não têm moradores com a doença", argumenta. A preocupação, avalia Rita, é uma conseqüência da municipalização das ações de HIV/Aids feita pelo Ministério da Saúde em 2002.
A preocupação com a interiorização se dá, também, porque em cidades menores o ciclo de relações é mais estreito e a visão da doença ainda é estigmatizada associando aids com prostituição, vício e homossexualismo. Rita diz já ter visto situações dramáticas em cidades pequenas. "Vi pessoas que perderam emprego e até mudaram de cidade. Nos municípios pequenos, é maior a chance da pessoa ser reconhecida. Apesar da exigência de sigilo, o caso pode ser comentado", aponta.
O preconceito com soropositivos atinge até os próprios profissionais da saúde, conforme atesta a pedagoga Sueli Ferreira dos Santos, da regional de Saúde da Sesa em Paranaguá. "Procuramos fazer eles (os servidores) sentirem na pele o que é ter o vírus e ser tratado com preconceito. Para isso contamos com a ajuda de um soropositivo", relata.
Profissionais
Para contornar o estigma, a regional de Paranaguá, que atende sete cidades, capacitou 140 servidores a prestarem atendimento especializado. A intenção é de que esses funcionários treinados repassem as informações aos outros servidores da regional. Os casos de aids na regional de Paranaguá mais do que quadruplicaram de 1994 para 2004, passando de 31 para 131 adultos com a doença.
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