Incidência
Vírus avança entre jovens homossexuais
O boletim da aids divulgado ontem traz outros dois dados importantes: a proporção de rapazes homossexuais entre 15 e 24 anos, portadores de aids, aumentou 10,1%. Segundo o Ministério da Saúde, em 1998 havia 12 homossexuais com aids para cada 10 heterossexuais com a doença. No ano passado, essa proporção passou para 16 por 10. Por isso, o tema principal da campanha a ser lançada na próxima quinta-feira, dia 1º, dia de luta contra a doença, será "A aids não tem preconceito. Previna-se". Os jovens e as mulheres com idades entre 13 e 19 anos serão os principais alvos da campanha.
O professor da Universidade de Brasília (UnB) e psicólogo Mário Ângelo Silva revela que o crescimento da aids nessa faixa etária entre os homossexuais possa se explicar pelo preconceito existente na sociedade. "Há muito preconceito nas escolas, na área de saúde, na família e na sociedade de modo geral, então o adolescente e o jovem homossexual tem baixa auto estima, o que faz com que ele não se cuide", argumenta.
Já a diretora do Centro de Informação em Saúde da prefeitura de Curitiba, Raquel Cubas, acredita que o aumento é reflexo do modo como a nova geração vê a aids. Para ela, os jovens que viveram na década de 90, por exemplo, viram ídolos, como Renato Russo e Cazuza, morrerem com sintomas da doença e, como reflexo, a incidência era menor. "Por isso, o grande desafio é investir no diagnóstico precoce da aids", acrescenta a coordenadora do programa estadual de DST-Aids na Secretaria de Estado da Saúde, Kathia Moreira.
Boa notícia
O número de crianças menores de 5 anos, que contraíram o vírus da mãe infectada, diminuiu 41%, segundo o Ministério da Saúde. Mário Silva argumenta que o avanço das políticas públicas no setor, que colocam o Brasil como país-modelo no tratamento da aids, reduziram a transmissão vertical, passada de mãe para filho no parto ou na amamentação. Para esse público, formado por crianças menores de cinco anos, a taxa de incidência que era de 5,9 no país em 1998 passou para 3,5 em 2010.
Enquanto a Região Sudeste reduziu quase à metade a mortalidade por aids nos últimos 12 anos, o Sul mantém o índice no nível mais alto do país desde 2003. Na região, a taxa de mortes chegou a nove casos por 100 mil habitantes no ano passado, quando a média nacional caiu de 7,6 para 6,3. Apesar de representar menos de 15% da população brasileira, o Sul foi responsável por 23% dos novos casos de infecção por HIV em 2010. Além disso, o Sul concentra várias das cidades que tiveram as maiores taxas de incidência de aids do país no ano passado. Dos 50 municípios com mais de 50 mil habitantes que registraram os maiores números de casos, 35 estão localizados na região, ou seja, 70% deles. Destes, 17 são do Rio Grande do Sul, 14 de Santa Catarina e quatro do Paraná.
Os dados fazem parte do Boletim Epidemiológico Aids/DST 2011, divulgados ontem pelo Ministério da Saúde. Segundo o estudo, os indicadores nacionais de infecção pelo HIV de modo geral melhoraram no país: houve leve queda em mortes, novos casos e na taxa de incidência entre 2009 e 2010.
Segundo o ministério, a prevalência (estimativa de pessoas infectadas) da aids se estabilizou no país e mantém-se em 0,6% da população, enquanto que a incidência (novos casos notificados) caiu de 18,8 por 100 mil habitantes em 2009 para 17,9 no ano passado. Até junho deste ano, o Brasil tinha 14.528 casos de aids, sendo 937 no Paraná.
Preocupação
O recorte da Região Sul despertou a atenção, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. "O crescimento nos menores municípios foi muito maior que em outras regiões do país", afirmou. Uma das causas seria o aumento do uso de drogas injetáveis na região. Já o secretário de Saúde de Maringá e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Antonio Carlos de Nardi, acredita que a proximidade com cidades portuárias ou de fronteira explicam essa concentração no Sul.
Porto Alegre a capital gaúcha é a primeira da lista de municípios com maior incidência do vírus no país em 2010, com 99,8 casos de aids para cada grupo de 100 mil habitantes. A primeira cidade catarinense na relação é Balneário Camboriú, em terceiro lugar com 77,7 casos. Já o Paraná surge pela primeira vez na 8.ª posição, com Pinhais, na região metropolitana da capital, com uma taxa de 58,1 casos. Paranaguá em 17.º lugar (taxa de 52,7), Curitiba em 31.º (41,8) e Foz do Iguaçu em 50.º (34,4) também são citadas na listagem.
O professor da Universidade de Brasília e psicólogo Mário Ângelo Silva acredita que a preponderância de casos no Sul se explica pelo maior acesso aos testes de detecção do HIV na rede pública. "Os estados das demais regiões estão menos estruturados", aponta.
Em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, por exemplo, 2.366 testes rápidos, que diagnosticam o vírus em apenas 10 minutos, foram feitos na central de atendimento desde janeiro até ontem. Em Curitiba, que figura na 5.ª posição entre as capitais com maior número de casos de aids, segundo a diretora do Centro de Informação em Saúde, Raquel Cubas, o exame que constata a doença está descentralizado em todos os postos de saúde desde 2001.
Risco de morte
Doença mata 1,5 pessoa por dia no Paraná
No ano passado, no Paraná, 559 pessoas morreram em decorrência do vírus HIV, o que dá uma média diária de 1,5 pessoa. O número foi 2,3% superior ao registrado no ano de 2009, quando 546 doentes de aids perderam a vida. De 1980 quando ocorreram os primeiros registros da doença no Brasil até o ano passado, 9.219 pessoas morreram por causa da doença no Paraná.
Embora alto, o número ainda é menor que nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 2010, 561 catarinenses morreram de aids e 1.454 gaúchos foram vitimados pela doença. No Brasil, esse número alcançou 11.965 pessoas no ano passado.
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