Medicamentos e cirurgia reparadora são gratuitos
O objetivo da terapêutica anti-retroviral é reduzir o máximo possível, pelo maior período de tempo, a quantidade de vírus HIV em circulação no organismo. A indústria farmacêutica tem feito drogas cada vez mais eficientes, reduzindo assim o número de pílulas do coquetel anti-aids. No início desse tipo de tratamento, os pacientes tinham de ingerir até 30 comprimidos com o estômago vazio ao longo do dia. Hoje são 17, oito produzidos no país e nove importados. Um deles é o Efavirenz, produzido pela alemã Merck, cujo genérico o Brasil começa a produzir este mês.
Antes do decreto presidencial que quebra a patente, de maio de 2007, o governo tentou convencer a Merck a reduzir o preço porque o alto custo ameaçava o sucesso do programa oficial anti-aids. É a primeira vez que o Brasil suspende a licença de um remédio, baseado no acordo de 2001 da Organização Mundial do Comércio que permite aos países em desenvolvimento, por motivos de emergência sanitária, quebrar patentes de remédios para produção de genéricos. O Efavirenz é o remédio mais utilizado nos tratamentos contra a aids oferecidos gratuitamente pelo país. Cerca de 38% dos soropositivos o incluem em seus coquetéis terapêuticos.
Atualmente, 186 mil pessoas estão em tratamento no Brasil. Contudo, de acordo com o Ministério da Saúde, embora os medicamentos anti-retrovirais estejam disponíveis no SUS, o início do tratamento de pessoas com HIV ainda é tardio e não atinge 100% dos pacientes. Para a diretora do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, a falta de percepção do risco pode ser uma das causas.
Dos pacientes que usam medicamentos antirretrovirais, 5% desenvolvem a lipodistrofia. A doença causa a perda de gordura no rosto e nas nádegas e acúmulo em outras partes do corpo, como pescoço, braços e costas. Por ser visível, o problema leva muitos doentes a abandonar o tratamento, o que motivou o governo a incluir as plásticas na lista de procedimentos pagos pelo SUS. No Brasil, 186 mil pessoas recebem os medicamentos do Programa Nacional de DST/aids. As cirurgias na face podem ser feitas também em ambulatórios e não apenas em hospitais. O Ministério da Saúde espera ter 64 serviços cadastrados em todo o país até o fim do ano. (MK)
Duas novidades recém-anunciadas pelo governo tornarão mais fácil e acessível o tratamento da aids. O Brasil começa a produzir neste mês o genérico do Efavirenz, medicamento hoje importado, e aumentou de cinco para 20 os centros conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) onde os soropositivos podem fazer de graça cirurgia plástica para corrigir deformações decorrentes da doença. As novas drogas antirretrovirais permitiram que a sobrevida no início da aids, que nos anos 80 não chegava a seis meses, alcance agora 20 anos. Mas os avanços provocaram a sensação de que a doença estaria sob controle e trouxeram novos efeitos colaterais.
Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para a Aids (Unaids), 45% dos novos casos têm ocorrido em pessoas de 13 a 24 anos. No outro extremo, o aumento da expectativa de vida, relações sociais mais intensas, o surgimento de estimulantes sexuais e o hábito de não usar preservativos ajudam a explicar a incidêcia da aids na população mais velha. De 1996 a 2006, a taxa de incidência duplicou entre pessoas acima de 50 anos, passando de 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7.
Em Curitiba, 8% dos casos de aids eram em população acima de 50 anos entre 1994 e 1998, índice que dobrou no período de 2004 a 2008. O parâmetro para alta incidência nessa faixa etária é de mais de 19 casos por 100 mil habitantes. Em 2000, eram 17,9 casos de aids a cada 100 mil habitantes, subindo para 21,7 em 2006. Não por acaso a Campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids do ano passado foi direcionada à população masculina maior de 50 anos.
A sensação de que a doença está sob controle levou as populações dessas duas distintas faixas etárias a relaxar nos cuidados e a adotar comportamentos de risco. Por isso as ações de prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e do HIV têm cada vez mais se voltado tanto para adolescentes quanto para pessoas da terceira idade, diz a coordenadora de DST e aids da Secretaria Municipal de Saúde, Mariana Thomaz.
Ressalvas
Soropositivo há 13 anos, o programador de sites Cláudio Santos de Souza vê com ressalvas o que se tem falado sobre a aids. "É uma doença degenerativa relativamente controlável, mas tenta-se passar a mensagem de que é uma doença crônica. Ainda que fosse, ela acaba matando", diz. Para ele, essa falsa ideia faz com que os jovens baixem a guarda e contribui para o aumento de infectados, pois dá a falsa impressão de que a doença já não é tão grave.
Cláudio mantém desde 2000 o site www.soropositivo.org. No dia-a-dia, percebe que os jovens têm menos medo de contrair a doença do que as gerações passadas. "É porque não viveram a fase inicial da aids, na década de 80, como os casos dramáticos iguais ao do Cazuza, e por isso não imaginam os estragos que ela pode causar", diz. "Um dos erros mais comuns é pensar que ninguém morre mais disso, que tem remédio de graça", emenda o curitibano Tiago (nome fictício), 40 anos, soropositivo há 10. Consultor em saúde, ele faz palestras para jovens.
Quem tem aids sabe que a vida nunca será a mesma, por melhores que sejam os medicamentos. A mulher de Cláudio descobriu-se infectada há 19 anos. Eles se conheceram numa sala de bate-papo para soropositivos, e estão juntos há nove anos. Todos os dias ele tem de aplicar uma injeção nas costas ou na barriga dela, uma vez que ela está em falência terapêutica, com o vírus resistente às drogas licenciadas no país. Cláudio lembra que, por mais cuidados que se tome, conviver com o HIV significa lidar com triglicérides alto, com problemas vasculares, com pressão alta. Ele precisa tomar remédios para o HIV e outros para controlar os efeitos colaterais e ainda mais alguns para os efeitos colaterais desses.
Cláudio já sofreu uma embolia pulmonar e um enfarto como consequências indiretas do vírus, e tem problemas neurológicos devido ao neurotropismo do HIV. Não só isso. Sua baixa imunologia levou um fungo a tomar conta do rosto, obrigando-o a usar um remédio antifúngico que traz implicações hepáticas. Mas um sintoma especialmente cruel, diz ele, é a morte social. Hoje ele vive trancado em casa, não tem emprego e vive de bicos como programador de sites. Logo que descobriu o vírus, deu entrevista na televisão e foi pressionado pelos vizinhos a se mudar. "Disseram que não queriam esse tipo de gente no prédio."
A mulher dele, com a doença diagnosticada em estágio avançado, é uma dos 5% de portadores que sofrem com a lipodistrofia, o que permite a identificação da doença por causa da aparência física do doente. O rosto e as nádegas murcham, deixando uma aparência moribunda. Ela fez cirurgia de enchimento no rosto e agora precisa fazer de novo. Advogada, ela conseguiu manter o emprego na empresa onde já trabalhava antes de contrair o vírus. "Ela é muito competente, e talvez só por isso fizeram vistas grossas para a doença", acredita Cláudio.
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