Se o ano inteiro foi de muito estudo para o vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizado ontem, nos minutos finais antes da prova os vestibulandos se agarraram a todos os recursos disponíveis na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), houve até simulação de bênção. Jorge Mussi, 19 anos e estudante do 4.º período de Medicina, aproveitou a tensão típica do dia e se vestiu de pai-de-santo. "Vim abençoar a galera, aumentar a confiança e ajudar", disse. Na brincadeira que ocorre há dois anos, os candidatos aprovados têm de voltar no vestibular seguinte, como seguidores de Pai Jorge.
Também acompanhada da família, a vestibulanda de Medicina Ana Flávia Saraceni, 19 anos, reuniu os pais para rezar um pai-nosso antes de entrar para fazer a prova, na sua segunda tentativa em Medicina para a UFPR. "Este ano estou mais confiante, com o cursinho e muita reza", diz. Também buscando uma vaga em Medicina, Diego Henrique Good Garcia, 18 anos, foi acompanhado de quatro amigos. Do grupo, Diego era o único que não tinha passado no vestibular. "Eles amarraram no meu dedo um papel de Sonho de Valsa para dar sorte", afirma, apontando para o amuleto.
Normalidade
Um ano depois da tempestade e do apagão que forçou o cancelamento da prova em cinco locais, veteranos fantasiados e amuletos feitos de embalagem de chocolate foram o que houve de mais inusitado ontem. "Depois de um vestibular tumultuado vem sempre um mais calmo", comentou o reitor Carlos Augusto Moreira Júnior na entrevista coletiva em que anunciou a abstenção: 2.606 vestibulandos, ou 6,19% dos candidatos.
O reitor ainda anunciou que, devido à adesão da UFPR ao Reuni, o programa de reestruturação das universidades federais, a instituição oferecerá mais 1.500 vagas já no próximo vestibular, no fim de 2008. "Esse é um aumento histórico significativo", disse o diretor do Núcleo de Concursos (NC), professor Valdo Cavallet. Moreira ainda afirmou que espera pelo menos 30% de cotistas de escola pública entre os aprovados, pois a partir deste ano, as vagas que não forem preenchidas pelos cotistas afrodescendentes irão para os alunos da rede pública, e não para a concorrência geral.
Repercussão
Os vestibulandos ouvidos pela reportagem reclamaram do alto grau de exigência. "Em comparação com os vestibulares das universidades particulares que eu tentei, a prova estava difícil. As questões de Física e História estavam bem complicadas. Acho que me saí melhor em Biologia", afirmou Fausto Yamauti, 27 anos, vestibulando de Educação Física. Para Hana Lídia Cordeiro, 18 anos, candidata ao curso de Medicina Veterinária, a prova de Matemática foi a mais difícil. "Estava num grau de dificuldade que eu não aprendi no terceiro ano do ensino médio", disse.
A lista dos convocados para a segunda fase está prometida para 3 de dezembro, mas o reitor afirmou que, caso não haja recursos pedindo a anulação de questões, a divulgação poderá ser antecipada.
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