O vício é responsável por levar a maioria dos andarilhos para a rua e, depois, pela formação de grupos que garantem a sobrevivência deles. Segundo os próprios moradores de rua, existe a "facção" dos dependentes de álcool e outra dos drogados. Essa diferenciação é o que quase sempre provoca brigas.
Adílson Antonio da Silva, 28 anos, e Antônio Carlos de Souza, 43 anos, se conheceram há cinco anos em Maringá. Viraram companheiros por causa da bebida, circularam por várias cidades do Paraná, até desembarcar neste ano em Curitiba. "Nosso negócio é pinga. Rato é que gosta de droga", diz Silva.
Os dois estavam deitados juntos na porta da catedral, na Praça Tiradentes, na noite de anteontem. Dividiam o mesmo cobertor e a mesma garrafa de cachaça. Ao lado, um outro mendigo dormia, meio desmaiado. Ambos disseram não fazer idéia de quem era. "Tem tanta gente na nossa situação que fica complicado dizer quem é", explicou Silva. Ele aproveitou para reclamar da violência da polícia. "Não é justo eles sentarem o cassetete na gente, que não rouba ninguém, só pede esmola."
Apesar do frio, nenhum deles queria ir para o abrigo da FAS. Segundo os dois, é ruim ficar no abrigo porque é preciso acordar às seis horas. Ao mesmo tempo, eles reclamam do perigo e do frio da madrugada na rua. O segredo da dupla é dormir no começo da noite e ficar acordado quando a temperatura começa a cair. "Tem gente que não consegue entender. Mas infelizmente nossa casa é debaixo de uma árvore quando está quente e embaixo de uma marquise quando esfria", afirmou Souza.