Álcool facilita morte por hipotermia

• 0

O frio pode se transformar em uma armadilha mortal para os moradores de rua que são dependentes de álcool. A ingestão de bebida faz com que ocorra uma sensação de aquecimento do corpo. Esse bem-estar aparente acaba sendo o primeiro passo para que uma pessoa morra de hipotermia.

O cardiologista Luiz Fernando Kubrusly explica que esse calor é provocado por um processo de vasodilatação das veias da superfície do organismo. "Por outro lado, o indivíduo que bebeu fica sonolento. Se ele cair no sono sem estar muito agasalhado e a temperatura externa estiver muito baixa, ele pode morrer por hipotermia", diz o médico, que é diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular.

Segundo ele, o frio é, em geral, um grande protetor de tecidos. Essa ajuda, porém, não vale para o coração. "Quando a temperatura do corpo baixa para cerca de 31°C, o coração sofre uma arritmia muito grande e uma fibrilação ventricular que, na prática, é igual a uma parada cardíaca."

Assistência

Para Kubrusly, a única forma de impedir que ocorram mortes de moradores de rua por hipotermia são atitudes similares à do programa Resgate Social. "Sempre foi assim: os mendigos começam a beber lá pelas 19 horas para espantar o frio na rua. Antigamente, havia muito mais casos porque não havia esse tipo de assistência", afirma o cardiologista.

Neste ano, dois possíveis casos de hipotermia foram registrados no Paraná. Embora não haja registros históricos oficiais sobre esse tipo de ocorrência, o último ano em que elas aconteceram em grande escala foi 2000, quando oito pessoas morreram em decorrência do frio apenas durante o mês de julho.

Entre as vítimas estava uma menina recém-nascida, abandonada dentro de uma caixa de papelão, em Irati, nos Campos Gerais. Na mesma semana, o bebê Odemar Ojeta morreu ao completar um mês de vida em uma aldeia indígena em São Miguel do Iguaçu. Na mesma madrugada, um agricultor de 61 anos foi encontrado morto na zona rural de Castro, a 150 quilômetros de Curitiba. Antônio Machado estava com a roupa molhada e, segundo vizinhos, era alcóolatra.

No ano passado, há registro de pelo menos uma pessoa que morreu por hipotermia em Curitiba. Wilson Caetano, 45 anos, foi encontrado morto por agentes do Resgate Social, deitado numa rua do Tatuquara. Ele havia ingerido bebida alcoólica antes de morrer e foi vítima da noite mais fria do ano na cidade, quando foi registrado – 0,1°C (dia 14 de junho).