O pesquisador José Mauro Braz de Lima estuda a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) há mais de 20 anos. Mães que consomem álcool durante a gravidez expõem seus filhos a esta síndrome, que pode trazer problemas neurológicos, como déficit de atenção e retardo mental. Os danos são irreversíveis. A doença ainda é pouco conhecida no Brasil apesar de já ser tratada como um problema de saúde pública em países como Estados Unidos e França. Lima está lançando o livro Álcool e Gravidez – Síndrome Alcoólica Fetal, Tabaco e Outras Drogas.

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O que é a Síndrome Alcoólica Fetal?

A SAF é ocasionada por uma série de situações quando a mulher grávida consome álcool. Ela ingere pela boca, mas a criança recebe pela artéria umbilical. É como se o bebê recebesse álcool na veia. Esta situação gera má-formação orgânica e cerebral, o que resulta em um cérebro pequeno, com microcefalia, má-formação cardíaca e renal. As crianças nascem com peso e estatura baixos. É uma deficiência para o resto da vida, mesmo que seja em menor grau. Às vezes elas até nascem com peso normal, mas, quando chegam à idade escolar, vão mal na escola e têm déficit de atenção. Nos países desenvolvidos, a SAF é um problema de saúde pública. Cada criança afetada representa um custo muito alto, pois demanda um trabalho muito grande. Nos casos mais graves elas ficarão dependentes dos pais para a vida toda. Na França toda garrafa de bebida tem a indicação de que o álcool faz mal para a gravidez. O governo norte-americano criou uma força-tarefa nacional para combater este problema.

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Qualquer nível de álcool é prejudicial para a criança?

Há uma relação entre a dosagem de álcool e se está no início ou fim da gravidez. Mas não há níveis seguros para o uso, como a própria Organização Mundial da Saúde recomenda: álcool e gravidez não combinam. Pode haver casos em que a mãe consumiu álcool e nada aconteceu, mas arriscar tem um custo muito alto. Nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisadores apontam que a incidência de SAF é 1 para cada 1 mil nascidos. A síndrome de Down ocorre a cada 3 mil nascidos. Há muito mais crianças com SAF e se fala muito menos no assunto. E em grupos vulneráveis, este número chega em 10 a cada 1 mil nos Estados Unidos. Aqui no Brasil não há muito diagnóstico para esta doença em função do desconhecimento dos próprios médicos.

Quais políticas públicas deveriam ser criadas para combater a SAF?

Nas universidades brasileiras não se estuda muito problemas do álcool, nem a SAF, nem a dependência. Mas a OMS adverte que o alcoolismo é maior causa de morte depois de problemas do coração e câncer. O Brasil tem muito a fazer e pode se espelhar nas políticas de outros países. Precisamos de muita informação e educação. Mais campanhas de prevenção e acompanhamento da maternidade. Contudo, apesar dos avanços, temos muitos absurdos em relação a bebidas alcoólicas no país. Recentemente o governo taxou as bebidas, mas deixou de fora a cerveja. Ora, a cerveja faz tão mal quanto o uísque.

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