O Dia de Finados é certamente o feriado com a pior imagem no ano, por ser normalmente associado à perda, à dor e à saudade. Tanto é que os mais jovens não costumam demonstrar muito interesse pela data, considerada "funesta". A Gazeta do Povo constatou porém que a tradição familiar de visitar os túmulos dos entes queridos e eventos como a missa celebrada ontem pelo arcebispo dom Moacyr Vitti, em conjunto com o padre Reginaldo Manzotti, no Cemitério da Água Verde, têm ajudado a conferir um clima mais ameno no feriado dedicado aos mortos.
O casal Olga Skryl, 68 anos, e Edmar Martins, 74 anos, são um exemplo de como a data pode se transformar num animado evento social. A reportagem os encontrou no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, "xeretando" o jazigo abandonado da família Macedo, onde foi feita uma pequena horta de couves. "Ed, venha ver, a tampa da lápide está quebrada, tem um buraco!", gritava a ex-enfermeira Olga ao marido.
Bem-humorados, os dois contaram que foram visitar vários parentes e amigos que estão sepultados no local. "Data triste é o dia em que a pessoa morre. Hoje para nós é uma data comemorativa, nós viemos fazer uma visita para as pessoas que gostamos, como se eles estivessem vivos. Nós acreditamos que eles estão em um bom lugar, bem melhor do que nós", resumiu dona Olga.
O marido Edmar emenda: "Quando a gente nasce, a gente chora e todo mundo ri. Temos de viver de modo que, quando morrermos, todo mundo chore e a gente ria." Durante a conversa, o casal cumprimentou várias pessoas, entre parentes e amigos, ratificando a idéia do evento social.
Eles confirmaram o desinteresse dos jovens em manter a tradição. "Eles não estão muito preocupados com isso. Alguns dizem que as pessoas não estão mais ali, que não vêem sentido em venerar um pedaço de pedra, terra e ossos. É uma tradição que talvez desapareça no futuro", prevê dona Olga.
Outras pessoas não encaram a data com a leveza transmitida pelo casal Edmar e Olga. É o caso da empregada doméstica Maria Clara Pachuk, que orava em frente à imagem do papa João Paulo II na capela da família Vicente Machado. "Não tenho ninguém enterrado aqui, minha mãe morreu há pouco tempo e está em Mallet. Mas eu venho, acendo velas na cruz grande e rezo para a Maria Bueno. O importante é a fé da pessoa", acredita. Ela acha a data triste. "Hoje eu chorei muito."
Já o bisneto do ex-governador Vicente Machado, o advogado João Cândido Neto, 39 anos, limpava e arrumava sozinho o suntuoso jazigo da família. "Acho que vale para demonstrar respeito. Para mim, que sou espírita, não é uma data triste ou saudosista, apenas marca a passagem para outro plano", definiu.
Missa
No Cemitério da Água Verde, ontem à tarde, o clima era de espetáculo. A missa concelebrada pelo arcebispo de Curitiba, dom Moacyr Vitti, e pelo carismático padre Reginaldo Manzotti, reuniu entre 25 mil e 30 mil pessoas na praça em frente ao cemitério, segundo a Polícia Militar. Instalados em um grande palco e acompanhados por uma banda e um coral, os sacerdotes conduziram a celebração e animaram os fiéis, que rezaram, cantaram e participaram da Eucaristia. Estima-se que 130 mil pessoas visitaram ontem os quatro cemitérios municipais da capital.
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